"Trinity", nome código do teste real ocorrido em 16 de julho de 1945, é uma versão em quadrinhos sobre o projeto que culminou na fabricação e explosão da primeira bomba atômica. Trata-se de um trabalho factualmente muito acurado. Jonathan Fetter-Vorm, jovem ilustrador norte-americano, baseou-se em trabalhos acadêmicos, uma dezena de livros sobre a história do projeto Manhattan e nas biografias dos dois principais envolvidos no projeto: o físico Julius Robert Oppenheimer e o general Leslie Groves (para os aficionados, há uma curiosa escultura dos dois em Los Alamos, clica aqui). Metade do livro conta rapidamente sobre os conceitos físicos relacionados a questão técnica de como construir uma bomba, das contribuições daquela brilhante geração de físicos que atuou no final do século XIX e na primeira metade do século XX (Pierre e Marie Curie, Rutherford, Einstein, Bohr, Heisenberg e outros tantos). Fala também da capacidade operacional e logística de Groves, que alcançou fazer com que milhares de pessoas trabalhassem no projeto de construção da bomba em dezenas de lugares diferentes do território americano - sobretudo os cientistas contidos em Los Alamos, no Novo México - sem saberem exatamente o que estavam fazendo, qual a finalidade daquilo tudo. Dizer que o projeto era secreto é quase um eufemismo. A segunda metade do livro é mais acelerada. Dá conta dos sucessos posteriores a primeira explosão experimental da bomba, a escolha dos lugares no Japão onde bombas daquele tipo poderiam ser lançadas (e o foram, em Hiroshima, no 06 de agosto e Nagasaki, no 09 de agosto, de 1945), o recrudescimento da guerra fria e da corrida armamentista, algo sobre os efeitos da radioatividade na saúde humana e sobre as questões éticas envolvidas no projeto. Óbvio, apesar da precisão das informações trata-se de uma graphic novel, de uma abordagem ingênua e sucinta de uma história complexa e cujos desdobramentos em certa medida ainda vivenciamos, pois a possibilidade de extinção da vida humana em decorrência de uma guerra nuclear total é algo tangível, real, desde 1945 até hoje. Mas, para um neófito no assunto iniciar sua jornada de estudos sobre a física dos processos nucleares ou a geopolítica da corrida armamentista não poderia pensar em algo melhor, mais apropriado. Sempre me lembro daquele pequeno fragmento de um documentário sobre Oppenheimer, em que ele fala da experiência de ver a primeira explosão da bomba (clica aqui). Ele usa os ensinamentos que Krishna (avatar de Vishnu, um dos três principais deuses do hinduísmo) dá a Arjuna no Bhagavad Gita para de alguma forma justificar-se (a vaidade nunca deixa de ser a mais curiosa e divertida das características humanas). Bueno. Em tempo: Ganhei esse livro de don Renato Cohen, amigo dos bons. E o li ainda em
janeiro, quando estava em São Paulo, mas como resolvi enviá-lo pelos
correios junto com tantas outras cousas que trazia de lá (e para não tê-las que carregar no avião)
acabei deixando que ele fosse roubado, ai de mim. Não detalho aqui as
circunstâncias do roubo reportado pela infame empresa que atende pelo
nome de Correios brasileiros pois não quero irritar-me mais do que já me
irritei neste ano. Apenas desejo que ela seja fechada, pois não serve nem para privatização, venda. É uma empresa canalha que precisa ser fechada e esquecida o mais rápida e definitivamente possível. Cabe dizer que tempos depois o Renato, sabendo de minha
triste sina, mandou-me um novo exemplar. Vale!
Registro #1297 (hq's, cartuns e mangás #69) [início - fim: 07/01/2018]
"Trinity: A história em quadrinhos da primeira bomba atômica", Jonathan Fetter-Vorm, tradução de André Czarnobai, São Paulo: Editora Três Estrelas (Grupo Folha de São Paulo), 1a. edição (2007), brochura 15,5x23 cm., 154 págs.,
ISBN: 978-85-65339-17-9 [edição original: New York: Farrar, Straus and Giroux / MacMillan Publishers) 2012]