quarta-feira, 26 de setembro de 2018

a fada sem cabeça

Acho que já li tudo o que Luís Henrique Pellanda publicou em livro. As crônicas curitibanas dele são imbatíveis, difícil dizer qual de seus livros ("Asa de sereia", "Nós passaremos em branco" e "Detetive à deriva") é melhor. Já registrei aqui a sorte que uma cidade tem quando um bom cronista navega por ela, recolhendo histórias e produzindo pequenos milagres literários, que a eternizarão. Pellanda também já havia publicado alguns contos seus em "O macaco ornamental", seu livro de estreia, de 2009. Nesse "A fada sem cabeça", seu mais recente lançamento, estão reunidos 28 contos, produzidos entre 2010 e 2017, sendo 14 anteriormente publicados em cadernos culturais, jornais ou revistas, 5 publicados em um blog (Asa de sereia) e 9 inéditos. As narrativas quase sempre brotam da memória de um sujeito sobre seus dias de juventude, não exatamente da infância, mas de uma época em que ele era jovem o suficiente para experimentar assombros, vivenciar descobertas marcantes, encantar-se sem medo de ser piegas. Há um clima de contos de fada ou de sonho em todos eles, como se o passado precisasse de uma pátina de fantasia ou ilusão para ser devidamente aceito, entranhado, absorvido pelo sujeito que rememora. Onze dos vinte e quatro contos, um tanto mais curtos, são enfeixados em um sessão dita "Pesadelos possíveis", impressos em folhas azuis, que contrastam com o branco convencional dos demais. Nestes onze a ambientação mágica, de fábula, de faz-de-conta é ainda mais marcante, o leitor viaja para longe, para seu passado de criança, quando ainda ouvia e lia contos de fada e se encantava com as invenções. Nunca é tarde para voltar a ser criança e entender das coisas metaforicamente, sem barreiras intelectuais. Claro, há um travo amargo em todas as histórias, que carregam um fracasso, uma derrota, um pequeno horror, talvez uma negação. Nada finalizador, incontornável, definitivo, mas que nos faz lembrar do poder do acaso na vida, de uma eventual estagnação de nossas vontades, dos caminhos de infinitas bifurcações que trilhamos todos nós, cegos sendo guiados por cegos. Ojo. Grande escritor esse Pellanda. Vamos a ver o que ele inventará a seguir. Vale! 
Registro #1332 (contos #155) 
[início 11/09/2018 - fim: 15/09/2018] 
"A fada sem cabeça, Luís Henrique Pellanda, Porto Alegre: Arquipélago Editorial, (1a. edição) 2018, brochura 14x21 cm., 176 págs., ISBN: 978-85-5450-014-6

terça-feira, 25 de setembro de 2018

queria ter ficado mais

"Queria ter ficado mais" é o resultado de um projeto bacana, que aposta na emoção, na sensibilidade, na paixão. Doze mulheres, doze jornalistas, foram convidadas para produzir relatos sobre alguma experiência de viagem. A ideia era elaborar narrativas que não servissem para fins práticos, como num guia de viagens, antes sim que evocassem o clima e a magia das viagens, o impacto de experiências que nos transformam. A edição é bem caprichada e inusual, bonita mesmo (como em geral são os livros da Lote 42). Trata-se de doze envelopes do tamanho de um cartão postal com cartas curtas, endereçadas ao eventual leitor, como em uma confissão. Os envelopes são ilustrados com aquarelas muito bonitas, assinadas pela artista plástica Eva Uviedo. As autoras quase sempre escrevem retrospectivamente, não durante as viagens, mas relembrando delas, falam daquilo que de marcante viveram em um determinado momento de suas vidas. Quase todos os destinos, ou melhor, sete deles, são mais ou menos óbvios: New York, Barcelona, Berlim, Paris, Roma, Londres, Buenos Aires. Três (Istambul, Tóquio, Israel e Valência) são só algo extravagante de se escolher em uma primeira viagem internacional. O único exótico e realmente diferente é Yangshuo (no sul da China, a aproximadamente 460 Km de Hong Kong). Na verdade esta foi a única história que realmente gostei, que alcançou comigo compartilhar a epifania que eventualmente experimentamos em uma viagem, o deslumbramento e alegria da descoberta, a sensação de que a vida vale a pena ser vivida sempre daquela forma. As demais são histórias convencionais, povoadas por clichês: correrias, atrasos em vôos, flertes ou sexo eventual, caminhadas ao luar, festas amalucadas. Talvez seja apenas minha natural rabugice que me impediu apreciar melhor as cartas, os relatos. Talvez se fossem histórias contadas por amigas de fato, ou por gente que falasse de suas aventuras em uma mesa de jantar ou numa noite na praia, para um grupo grande, rindo e detalhando as coisas ao sabor das reações dos demais, o efeito fosse mais marcante. Vai saber. De qualquer forma, sempre é uma boa ideia viajar, viver. Vale! 
Registro #1331 (cartas #8) 
[início 01/07/2018 - fim: 21/09/2018] 
"Queria ter ficado mais", Barbara Heckler, Bruna Tiussu, Cecília Araújo, Cecília Arbolave (organização), Clara Averbuck, Clara Vanali, Florencia Escudero, Isis Gabriel, Ligia Braslauskas, Lívia Aguiar, Luciana Breda, Olívia Fraga, ilustrações de Eva Uviedo, São Paulo: Editora Lote 42, 1a. edição (2015), 12 envelopes, 16x11 cm., 107 págs., ISBN: 978-85-66740-10-3

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

contos da vida expedicionária

Foi o Samuel Pessoa, amigo querido, quem falou-me dos contos de Celso Furtado, na tarde mágica de um sábado do último maio, em que falamos do passado (dos tempos do IFUSP e dos amigos de então), do presente terrível (eram os dias da greve dos caminhoneiros) e do futuro (dos planos para as férias de inverno e as viagens que faríamos). Também ouvi da Heloísa histórias maravilhosas sobre literatura, amizade e vida, conheci amigos deles, acompanhei a vibração e alegria contagiante da pequena Inês. Só faltou para mim rever a Raquel, que estava com a Silvia no Rio de Janeiro. Foi o dia em que fizemos libações e sonhamos, uma vez mais "drowning in honey, stingless". Algo sobre o Celso Furtado político, intelectual brasileiro de primeira linha, ministro e imortal da Academica Brasileira de Letras eu já sabia (sou um velho e cansado senhor, já se sabe). Todavia, não tinha ciência desta incursão dele pela ficção, destes contos escritos na juventude, quando não tinha ainda 25 anos. São dez histórias curtas, produzidas no período em que ele fez parte da Força Expedicionária Brasileira, como oficial de ligação junto ao V exército americano, sediado na Toscana italiana, entre janeiro e agosto de 1945. A segunda grande guerra já se encaminhava para seu desfecho. Os contos explicitam uma mente sofisticada, erudição indisfarçada, curiosidade intelectual. De situações banais, na medida em que algo que aconteça durante uma guerra devastadora pode ser banal, Furtado constrói contos morais, reflexões sobre o comportamento humano, faz observações sobre decisões e escolhas, análises finas sobre geopolítica, psicologia e economia. O narrador de Furtado sempre é um oficial brasileiro, como ele, Tenente, que experimenta uma situação limite, nem sempre envolvendo combates e mortes, o trágico da guerra, antes sim sobre aquilo de essencialmente humano que transparece dos escombros de uma civilização. Numa história um pracinha, cansado, sonha com o furto de uns cigarros e o suicídio de um prisioneiro alemão; noutra um pracinha experimenta a cumplicidade de uma combatente italiana, numa espécie de aprendizado sobre o papel da mulher na sociedade; noutra ainda se descreve a aventura de um brasileiro que se encanta com sua imersão nos séculos de história de uma Florença que conhecia apenas livrescamente. Há historias envolvendo vingança e honra. Numa um negro mata um prisioneiro alemão por conta de um bombardeio no qual morre uma velha senhora italiana que ele mal conhecia; noutro um oficial salva a vida de uma jovem, acusada de ter sido simpática aos invasores nazistas. Há histórias nas quais certos aspectos da psiquê brasileira são explorados, como aquela em que uma italiana que pretendia casar-se com um soldado brasileiro para emigrar para o Brasil descobre ser ele casado e mulherengo, e uma outra, uma releitura divertida da Divina Comédia de Dante, em que vários amigos falam das diferenças entre as mulheres do Brasil e da Europa, histórias que beiram o preconceito, mas como trata-se de histórias de caserna, estão longe de ser misóginas. De três contos eu gostei especialmente. O primeiro é uma espécie de road-movie, no qual dois oficiais brasileiros saem de folga numa viagem de Milão a Paris, em busca de sexo e alegria, interagindo com americanos, franceses e até prisioneiros alemães, contrastando hábitos e costumes desses povos; no segundo se narra dias de festejos em uma praia italiana, nos quais uma antropóloga dinamarquesa se espanta com a erudição de um seu confrade brasileiro, que imaginava viver de tanga e a tocar tambores; já o último basicamente trata do debate intelectual entre um oficial americano e um brasileiro, em que se digressa, no limite da civilidade, os diferentes hábitos e história dos dois povos, se desnuda, numa sociologia selvagem, aquilo que os une e os afasta. Seguro que esses contos não brotaram só da experiência de Furtado, devem ter sido ouvidos, em uma miriade de versões, de seus confrades combatentes, sujeitos que inventam e exageram seus sucessos e conquistas, que seletivamente usam a memória. De qualquer forma, Furtado inclui nas histórias reflexões sobre o Brasil, fala da riqueza de sua composição e diversidade étnica; da funesta vocação para o subdesenvolvimento brasileiro, derivada de sua posição periférica; da falta de objetividade da elite brasileira, incapaz de colocar seu refinamento intelectual a serviço de projetos e em ações que transformem seu pais. São contos otimistas, de alguém que espera reverter essa inação, sabedor dos desafios que enfrentará. Os narradores de Furtado vão a museus, a concertos, discutem sobre Brahms e Verdi, são algo lascivos, como não, fazem uso do exotismo para angariar simpatias, são intelectualmente curiosos, dominam as regras de etiqueta e civilização, sabem argumentar e ferir com a linguagem, mais que com a espada. Ao retornar ao Brasil, em agosto de 1945, Furtado começou sua caminhada no palco dos embates políticos, econômicos, sociológicos. Inegável é sua perene presença nos debates acadêmicos sobre o sempre futuro desenvolvimento brasileiro. Não conheço suficientemente sua obra econômica para dizer se suas idéias ainda são válidas, se suas análises sobre as raízes de nosso subdesenvolvimento de alguma forma devem ser levadas em consideração hoje, em que vivemos décadas de crescimento econômico pífio. Como leitor, apenas destes dez bons contos, imagino que talvez o Brasil tenha perdido um bom artificie da língua, um bom escritor, um sujeito cuja intuição literária talvez poderia contrastar e tornar-se mais seminal que aquela de um Jorge Amado, por exemplo. Difícil dizer. Vamos a ver o que o Samuca dirá sobre ele, no livro que prepara e promete publicar ainda neste funesto ano, de eleições, em que teremos todos de tomar decisões cujas consequências são terríveis. A ver. Vale! 
Registro #1330 (contos #154) 
[início 21/09/2018 - fim: 23/09/2018] 
"Contos da vida expedicionária (Obra autobiográfica de Celso Furtado, Tomo1)", Celso Furtado, Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra (Grupo Editorial Record), 1a. edição (1997), brochura 14x21 cm., 367 págs., ISBN: 85-219-0282-4

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

algum tempo depois

Estive em uma missão de trabalho no interior do Espírito Santo e achei por lá, por um feliz acaso, esse livro de Manoel Carlos Karam, de quem nunca havia lido nada. O volume chamou-me a atenção pois só há um par de meses eu havia tido notícia de Karam e de sua obra, informado pelo industrioso Marcio Renato dos Santos, imortal curitibano, jovem jornalista que conhece como poucos o mundo dos livros e da literatura deste país (o negócio dos livros e a arte da narrativa não são exatamente sinônimos). Em "Algum tempo depois" acompanhamos as reflexões de um homem que é uma espécie de espião industrial, um agente ou operador de uma empresa que oferece serviços sujos ao mercado. O romance me parece uma metáfora da vida vazia, da rotina e do tédio de que padecem, em qualquer tempo ou lugar, a maioria dos trabalhadores, no exercício de qualquer tipo de atividade. O narrador de Karam não tem nome, o leitor jamais saberá em que cidade ele vive, em que ano se sucedem os acasos da história. Esse narrador é obcecado por certos temas, repetitivo, incapaz de surpreender-se de fato com a vida. Os temas que lhe são caros são o tempo, os vinhos, a ideia de usar óculos, a seriedade de sua ocupação, os resultados esportivos, o silêncio, os sonhos, as variações de caminhos entre sua casa e seu escritório, as regras de sua atividade, a possibilidade do riso, as viagens de sua mulher (que é uma espécie de duplo seu, igualmente distante, enigmática, vazia). É um livro bem escrito, bem humorado, fácil de ler. Mas esse facilidade é cousa pensada, articulada, pois o leitor é continuamente provocado a conferir se não é uma espécie de espelho mágico aquilo que está a ler, se aquele tédio entranhado não é igual ao seu. Muito interessante. Vamos a ver se acho outras cousas dele para ler. Vale! 
Registro #1329 (romance #350) 
[início 28/08/2018 - fim: 11/09/2018] 
"Algum tempo depois", Manoel Carlos Karam, Curitiba: Arte e Letra Editora, 1a. edição (2014), brochura 13x19 cm., 176 págs., ISBN: 978-85-60499-61-8

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

monstruário

A ideia até que é bacana, as ilustrações bonitas, mas não gostei desse "Monstruário", de Katia Canton. Sou um velho e cansado leitor, já se sabe, talvez não saiba exatamente por quais caminhos se deve sensibilizar os jovens para lhes possibilitar compreensão de temas complexos. Paciência. Katia Canton nos oferece um catálogo com doze tipos de monstros modernos, que assombram gente jovem e adultos, como não, também disponibilizando um antídoto adequado aos efeitos perniciosos provocados por eles. Os doze monstros de seu catálogo são alegorias de vícios, emoções dolorosas ou manias bem humanas, como o medo, a gula, a raiva, a ansiedade, a mentira, a culpa, o preconceito, a falta de autoestima, a depressão (e de todas as demais variantes possíveis). Funciona se o leitor entender o jogo, aquilo que não é explicitado no texto ou nas ilustrações. Talvez se uma pessoa mais velha lesse as histórias, como num conto de fadas, o efeito seja apreciável. Todavia, acho difícil que um adolescente, que é quem mais é afetado por estes males da contemporaneidade, aceite que um adulto leia em voz alta um livro para eles. Se para as crianças os argumentos utilizados são sutis demais para o real entendimento e se para um adolescente soam pueris, aborrecidos, talvez o livro só funcione para pais adultos, que precisam de alguma informação para entender as variações no humor de seus filhos. Muitos talvez para um livro só. Vamos em frente. Vale! 
Registro #1328 (infanto-juvenil #47) 
[início - fim: 07/09/2018] 
"Monstruário", Katia Canton, ilustrações de Maurício Negro, São Paulo: Editora DCL, 1a. edição (2013), brochura 16x23 cm., 32 págs., ISBN: 978-85-368-1593-0

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

recuerdos durmientes

Fazia tempo que não lia algo de Patrick Modiano. Entre 2014 e 2015 li pelo menos uns quinze romances dele. Encontrei esse volume junto com um ótimo livro do Vargas Llosa, lá em Buenos Aires, como já registrei aqui. "Recuerdos durmientes" é um pequeno romance, que gravita um mundo de mulheres, da lembrança de mulheres que vagamente foram importantes para um sujeito. O narrador, Jean D., que pode ou não ser um alter ego de Modiano, pois tem a mesma idade, ofício, hábitos e preocupações estéticas, recolhe fragmentos de seu passado. Os acontecimentos que o narrador resgata são sobretudo da primeira metade dos anos 1960. O jovem Jean, solitário e tímido, caminha pela cidade, como sempre deve ser, sem rumo, perdendo-se, para logo encontrar algo interessante e vívido, surpreendendo-se.  As mulheres que Jean quer retrospectivamente decifrar são "a filha de Stioppa", um amigo de seu pai, provavelmente um contrabandista de origem russa; Mireille Ourousov, que o havia ajudado quando ele teve uma enfermidade durante uma viagem de seus pais; Geneviéve Dallame, leitora solitária que ele conhece num café e com quem se envolve afetivamente; Madeleine Péraud, uma velha amiga de Geneviéve, dona de uma livraria especializada em ciências ocultas; Madame Hubersen, uma colecionadora de máscaras e esculturas africanas; Martine Hayward, que organizava festas para dançarinos e artistas; um garota inominada, que com ele partilha atração e curiosidade sobre os mistérios de Paris, e que ele ajudou a esconder-se de um crime. O livro oscila, como num sonho, entre o período em que está sendo escrito, 2017, os anos 1990 e 2000, em que o narrador reencontra por acaso aquelas mulheres, já metamorfoseadas, e os anos 1960, vividos por ele, mas suficientemente soterrados por camadas de esquecimento, de forma que ele nunca fica seguro se realmente experimentou aquilo tudo ou apenas o inventou. O passado que se evoca é de fábula, mítico. O narrador, como sempre nos livros de Modiano, tem a especial capacidade de saber ouvir confidências de seus interlocutores, sem nunca devolver seus segredos, revelar-se. As velhas agendas, recortes de jornais e revistas, dossiês, fotografias, papéis com anotações indecifráveis, parecem brincar com o velho senhor que narra, inebriado consigo, com seu duplo do passado, curioso daqueles sucessos quase sem sentido, irrelevantes. Assim, enigmática e bela, é a vida que todos experimentamos, e continuamos a experimentar. Vale! 
Registro #1327 (romance #349) 
[início 06/09/2018 - fim: 08/09/2018] 
"Recuerdos durmientes", Patrick Modiano, tradução de María Teresa Gallego Urrutia, Barcelona: editorial Anagrama (Panorama de Narrativas #982), 1a. edição (2018), brochura 14x22 cm., 104 págs., ISBN: 978-84-339-8012-0 [edição original: Souvenirs dormants (Paris: éditions Gallimard) 2017]

terça-feira, 11 de setembro de 2018

la llamada de la tribu

Em julho, Helga e eu zarpamos para Buenos Aires. Fazia bastante frio e choveu à beça, mas conseguimos aproveitar os dias nos cafés, nos museus, nas livrarias e também nas calles (como não flanar sem rumo em uma cidade como Buenos Aires?) Aconteceram várias cousas bacanas. Por uma coincidência dos diabos fiquei hospedado ao lado de um apartamento que já havia sido habitado pelo Garcia Lorca, em 1933. Pensei muito nele e em sua poesia. Tomamos vinho e passeamos, achamos por acaso lugares bacanas, como um piano bar que também funciona como livraria, chamado "Clásica y Moderna" e a "Quetec oliva y gourmet", na Avenida de Mayo. Na excelente Fundación PROA achei dois livros do Joyce recentemente publicados por lá: uma nova versão do Ulysses e uma nova versão de seus poemas. Em uma das excursões literárias que fizemos encontrei esse "La llamada de la tribu", livro de Mário Vargas Llosa, que quente como pão fresco ocupava várias estantes da boa livraria Cúspide. Li a introdução ao livro ainda lá em Buenos Aires e imaginava que em poucos dias terminaria a leitura, mas não foi isso que aconteceu. Trata-se de um volume robusto, denso, que cobra atenção e reflexão do leitor. Na verdade são sete pequenas biografias o que Vargas Llosa engendrou. Há algo explicitamente autobiográfico na escolha dos sujeitos sobre os quais ele fala: Adam Smith, José Ortega y Gasset, Friedrich von Hayek, Karl Popper, Raymond Aron, Isaiah Berlin e Jean-François Revel. A estes sete sujeitos, sete filósofos, Vargas Llosa atribuiu sua formação e conversão ao cânone liberal, a defesa desta doutrina (que não é única, nem invariante no tempo) como opção mais viável para a melhor convivência entre os homo sapiens deste planeta. A leitura sistemática destes autores, em suas próprias palavras, "moldou sua forma de pensar e ver o mundo nos últimos cinquenta anos". Não é pouco. Apesar de saber ao menos os nomes e fragmentos biográficos, nada li sistematicamente dos gurus ideológicos de Vargas Llosa, com a exceção de um único livro de Isaiah Berlin, que já registrei aqui, sobre as raízes do Romantismo, e de Karl Popper, de quem li dois poderosos volumes por indicação do Manoel Robillota, num curso de evolução dos conceitos da Física, que fiz no IFUSP, na flutuante primeira metade dos anos 1980. Ainda tenho os surrados volumes de "A sociedade aberta e seus inimigos" em minha biblioteca que fica guardada no campus da UFSM. Lembro-me bem que meu colega de aventuras neste tempo era o Samuel Pessoa, ainda não metamorfoseado no seminal doutor em economia que é hoje. Bueno. Um outro autor, seduzido pelas ideias liberais, talvez fizesse outras escolhas, mas eu entendo as dele. Nos ensaios (pois é disso que se trata), Vargas Llosa analisa vida e obra de cada um dos sujeitos biografados. A ênfase é em seu envolvimento pessoal com a obra deles, mas os aspectos mais relevantes são antes literários que biográficos. Levei várias semanas para encontrar o ritmo adequado de leitura. Cada autor cobra uma percepção diferente. Todavia, aprendi um bocado. De Adam Smith , Raymond Aron e Ortega Y Gasset só conhecia umas piadas, uns fragmentos biográficos, uns chistes; de von Hayek e Revel nada de nada. Há muitas pérolas neste livro. Fiquei impressionado sobretudo com as reflexões de Raymond Aron, Jean Revel e Isaiah Berlin. Os sete cavaleiros de Vargas Lllosa acreditam que viver civilizadamente implica na aceitação tácita da liberdade e da legalidade, do individualismo e da propriedade privada, da luta pelos direitos humanos, boa convivência humana e paz. O livro serve como uma síntese política do século XX, das transformações sociais  e conflagrações pelas quais passamos. Helas! Não se pode fazer tudo na vida, ler tudo, dedicar-se com disciplina a assuntos que não são exatamente afeitos a seu ofício ou ocupação. Mas como não digressar pelas ideias dos outros, sem medo, sem temor, mas também sem esperança, sem a certeza de que aquilo nos servirá para entendermos melhor o mundo, enquanto ainda somos curiosos. Se o Vargas Llosa só ficou sabendo da existência de "Rumo a estação Finlândia", de Edmund Wilson, uns dez anos depois de mim (que o li em 1986), tudo é possível. Outros livros já cobram meu tempo, minha atenção, mas este ficará em minha memória como um livro de aprendizado, um volume de encantamentos. Talvez devesse ser sempre assim. Vale! 
Registro #1326 (crônicas e ensaios #232) 
[início 27/07/2018 - fim: 10/09/2018]
"La llamada de la tribu", Mário Vargas-Llosa, Cíudad Autônoma de Buenos Aires: Alfaguara / Penguin Random House Grupo Editorial, 1a. edição (2018), brochura 13x21,5 cm., 312 págs., ISBN: 978-987-738-452-9

sábado, 8 de setembro de 2018

o gato e as orquídeas

Como já mencionei ao falar de "O gato filósofo", no último Natal dei de presente para algumas pessoas queridas volumes dos livros de Kwong Kuen Shan. Disse também que ela é uma artista plástica chinesa, havia nascido em Hong Kong e vivia radicada na Inglaterra há muitos anos. Neste volume sua arte gravita o mundo dos gatos e dos arranjos florais. As ilustrações - aquarelas - são muito bonitas e, a exemplo daquele volume anterior, compartilham espaço com textos chineses antigos, provérbios tradicionais, poemas e ensinamentos zen. Trata-se do tipo de livro que folheamos sem pressa, esboçando risos, respirando lentamente, em paz; experimentamos algum espanto ao virarmos uma determinada página. Textos e imagens formam um belo conjunto, funcionam bem juntos. Há alguma magia na disciplina que decorre da observação, ganha-se algo naqueles momentos em que, com calma e paciência, necessárias para que se mergulhe verdadeiramente naquele mundo flutuante e sutil, nos entregamos completamente às flores e aos gatos ali representados. Novamente encontramos quarenta ilustrações, e novamente às imagens são acrescentados caracteres chineses e sinetes, que representam o estado de espírito da artista no momento de criação. ÔBeleza. Vale! 
Registro #1325 (livro de arte #27) 
[início 18/05/2018 - fim: 19/05/2018]
"O gato e as orquídeas", Kwong Kuen Shan, tradução de Denise Bottmann, São Paulo: Estação Liberdade, 1.a edição (2018), brochura 17x17 cm., 96 págs., ISBN: 978-85-7448-296-5 [edição original: Le Chat à l'orchidée (Paris: Editions L'Archipel) 2015]

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

valerian 3

Esse é o terceiro volume das aventuras de Valerian e Laureline, invenção genial de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières. Já contei algo aqui sobre os dois primeiros álbuns, bem editados pela Editora Sesi-SP (volume #1 e volume #2). As três histórias reunidas neste terceiro álbum, a exemplo do que se vê nos anteriores, são icônicas dos tempos de contracultura e transformações sociais dos anos 1970. Em "O embaixador das sombras", publicado originalmente em 1975, o leitor acompanha uma destemida Laureline, comprometida em resgatar Valerian, que foi sequestrado por um povo estranho, antiquíssimo e sábio, e cuja função no universo é conter a arrogância natural e despotismo dos terráqueos. Há uma miríade de curiosos seres alienígenas na trama, habitantes de uma espécie de ONU galática, lugar onde são debatidos temas de interesse tão complexos e contraditórios quanto aqueles que povoam a nossa, real. Christin e Mézières são otimistas, fazem seus personagens lutar pelo bem comum e a livre determinação dos povos da galáxia. Em "Nas terras falsificadas", de 1977, Laureline é novamente protagonista frente a um empalidecido Valerian (já existia empoderamento feminino nos anos 1970, esqueceram de avisar para as feminazis do século XXI). Acompanhamos o diletantismo de uma pesquisadora terrestre que usa Valerian para emular infinitas alternativas históricas para os séculos XIX e XX, nas quais clones dele repetidamente morrem. Trata-se de uma espécie de pesquisa acadêmica estéril e irrelevante. A história explicita críticas às universidades, ao afastamento entre o mundo acadêmico e o mundo real, das pessoas comuns, que são afetadas por descobertas científicas e processos de engenharia social engendrados por pesquisadores que mal conhecem as necessidades verdadeiras de seus concidadãos. Já na terceira das histórias deste álbum, "Os heróis do equinócio", o tema principal é o envelhecimento e a educação dos filhos. Valerian junta-se a três outros alienígenas numa competição que visa escolher quem melhor fecundará um planeta, repovoando-o. A história metaforicamente contrasta três alternativas de organização social, igualmente perigosas e perversas: o fascismo, o comunismo e a alienação pelas drogas, a fuga da realidade, a vida de contemplação. Muito interessante. Espero mesmo que a SESI-SP continue editando estas curiosas histórias. Vale! 
Registro #1324 (graphic novel #71) 
"Valerian Integral (volume #3)", Pierre Christin, Jean-Claude Mézières, cores de Évelyne Tranlé, tradução de Fernando Paz, São Paulo: SESI-SP editora, 1a. edição (2018), brochura 22,5x29 cm., 172 págs., ISBN: 978-85-504-0668-8[edição original: Valérian Intégrale - tome 3 (Paris: Dargaud) 1978]

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

abaixo do paraíso

Nunca havia lido nada de André de Leones, jovem e premiado escritor goiano, radicado em São Paulo. Ele já publicou sete livros, o mais recente, "Eufrates", ainda quente, recém saído das rotativas (e já viajando pelas nuvens digitais). Recentemente li o romance imediatamente anterior dele, "Abaixo do Paraíso", publicado em 2016. Se o início do romance induz o leitor a pensar que se trata de algo relacionado a solução de um mistério, como numa história policial, rapidamente percebemos uma mudança de tom e de estofo, ao submergirmos na consciência, ora cínica, ora pesada, de um típico trambiqueiro da política nacional, aquela espécie de sujeito que vive de fazer favores aos detentores de mandato, aos corruptos de plantão. Esse sujeito, Cristiano, é ainda jovem, formado em Direito, mas sem nunca tendo exercido a advocacia. Seu pai é um fazendeiro do interior de Goiás, se não exatamente próspero, certamente sem problemas financeiros aparentes, já casado com outra pessoa e com uma filha universitária. Nos tempos em que frequentava o curso superior, mais preocupado em facilitar drogas para os amigos e seduzir mulheres no campus, conheceu Paulo, que o introduziu no mercado e na vertigem da política. O livro é de fato bem escrito, com diálogos sempre curtos, enfeixados por flashes nunca cronológicos, fluxos de consciência e reflexões sobre o Brasil contemporâneo. As referências bíblicas são óbvias e de certa forma estruturam o romance. Os temas que povoam a conturbada mente e memória de Cristiano gravitam os ritos de passagem, o luto, a morte de pessoas próximas, a culpa cristã, uma possível redenção, sua volta para casa como filho pródigo, a purificação de seus vícios de conduta, seus muitos pecados capitais. Nele estão entranhadas a perversão, o pecado original, seja pela genealogia viciada, seja pelo ambiente tóxico de sua atividade. No fundo quase todos os operadores do Direito brasileiro, esse apodrecido, enorme e inacreditavelmente caro sistema judiciário, são variantes de Cristianos, atuam nas margens turvas da lei para facilitar que os corruptos de sempre alcancem suas vantagens. Aos pequenos atravessadores sobram migalhas que eventualmente seus senhores mentais deixam para trás. Gostei. Vou procurar outros livros de Leones, seguro que sim. Cabe ainda acrescentar aqui uma cousa mais. Foi o Erwin, amigo de longe e também conhecedor de minhas falhas, quem perguntou-me noutro dia se eu havia lido algo do André de Leones e que, generoso, fez chegar um volume até mim. Grato meu caro Erwin, Viva. E segue o baile. Vale! 
Registro #1323 (romance #348) 
[início: 26/05/2017 - fim: 31/08/2017]
"Abaixo do Paraíso", André de Leones, Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 253 págs., ISBN: 978-85-325-2977-0

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

mares do leste

O sueco Tomas Tranströmer recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 2011. Esse é o primeiro volume com poemas dele editado no Brasil. A seleção e organização é assinada por Marcia Schuback. Não se trata exatamente de uma antologia. Ela recolheu poemas de "17 poemas", primeiro livro dele publicado, em 1954; "Mares do Leste", de 1974; "Gôndola lúgubre", de 1996; "Prisão", de 2001 e "Grande enigma", de 2004. Ficaram de fora pelo menos oito outros livros, publicados entre 1958 e 1989. Àqueles cinco citados acima a tradutora acrescentou um texto inédito, de 1977, cedido pela viúva de Tranströmer e, separados, um conjunto de 64 robustos haikus retirados dos três últimos ("Gôndola funebre", "Prisão" e "Grande enigma"). De qualquer forma, metade do volume corresponde a haikus, forma poética de inspiração japonesa, na qual cinco, sete e novamente cinco sílabas formam três versos curtos. Essa constatação é óbvia,  vale sempre, para qualquer autor forte de poesia, mas especialmente aqui não se trata de material para ser lido depressa. Comecei e abandonei esse livrinho diversas vezes. Os poemas são densos, as imagens e metáforas cobram algum esforço. Curiosamente, nos meses em que fiquei com o volume à mão, assisti várias séries nórdicas na Netflix (algumas por sugestão do indefectível Renato Cohen, sempre antenado), assim sendo minha imaginação já estava povoada com a vastidão do horizonte, a paleta de cores frias, a onipresente neve, o silêncio tumular, o vertical assombro das compactas florestas de pinheiros, o céu plúmbeo repleto de aves de arribação em fuga. "Mares do Leste", que dá nome ao volume, é um poema longo, cheio de surpresas. "Preludio", recolhido de "17 poemas", também espanta pela falsa simplicidade dos achados. Os poemas de "Gôndola fúnebre" foram os que mais gostei. Tratam de viagens, pela Europa e pelo tempo. A edição é bilingüe, mas o sueco é tão impenetrável escrito quanto ouvido, não se pode alcançar saber tudo nesta babélica vida. Os haikus se defendem sozinhos. Há cousas típicas do mundo flutuante, o lago, o sapo, a árvore, o rio e o mosteiro, mas também cousas do Norte escandinavo, os fiordes, os mares de gelo, as sombras longas. Preciso em algum momento registrar os haikus do Bashô que me assombram desde janeiro, mas ainda não estou pronto, não é tempo. Em dezembro talvez. Vale!
Registro #1322 (poesia #99) 
[início: 16/05/2017 - fim: 31/08/2017]
"Mares do Leste e outros poemas", Tomas Tranströmer, tradução Marcia Sá Cavalcante Schuback, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Das Andere #2), 1a. edição (2018), brochura 10,5x15 cm., 231 págs., ISBN: 978-85-92649-32-6 [edição original:  (Stockholm/Sweden: Albert Bonniers Förlag) 2015]

domingo, 2 de setembro de 2018

aquela água toda

Nunca havia lido nada de João Carrascoza, premiado escritor paulista. Noutro dia, flanando sem pressa, encontrei lá nos domínios do Gus Ventura em Porto Alegre esse pequeno volume de contos. Interessantes. São onze histórias curtas, que gravitam o universo da memória, os fragmentos da infância, a reconstrução daquele mundo idílico e provavelmente inventado por nós mesmos, péssimos arqueólogos dos escombros de nossa vida. São bastante inventivos, sempre leves, mas de uma falsa simplicidade. Para produzir ficção assim o sujeito precisa dominar bem o seu ofício. Numa história o narrador traduz aquele consolo que só a imensidão do mar é capaz de oferecer a homens aborrecidos; noutra relembra o friúme de um primeiro encontro, num cinema; noutro ainda fala das estratégias toscas que só a ingenuidade infantil sabe criar. Nos contos não há digressões filosóficas, deambulações teóricas, escolhos retóricos. Uma situação é apresentada, desenvolvida com lirismo e cirurgicamente finalizada. Sem malabarismos, sem artifícios bestas. Gostei especialmente de "Recolhimento", onde um sujeito experimenta uma dolorosa epifania, e de "Mundo justo", que trata de como aceitamos retrospectivamente o luto, a perda. O livro inclui um conjunto de ilustrações assinadas por Visca, um artista plástico paulista (há coisas bacanas dele no Instagram: clica!). Vamos a ver quando o acaso irá me trazer outra pequena maravilha assim. Vale! 
Registro #1321 (contos #153) 
[início: 26/08/2017 - fim: 28/08/2017]
"Aguela água toda", João Anzanello Carrascoza, Rio de Janeiro: Editora Schwarcz (Alfaguara / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2018), brochura 12x18 cm., 112 págs., ISBN: 978-85-5652-023-4

sábado, 1 de setembro de 2018

quem sofre são as crianças

"Quem sofre são as crianças" é o décimo sexto volume com os sucessos do comissário Guido Brunetti, poderosa invenção de Donna Leon. Desta vez os temas abordados por ela são a maternidade, as infidelidades conjugais, as regras de adoção, o xenofobia, a privacidade de nossos dados e a questão do aborto. Brunetti não deveria envolver-se no caso (o sequestro de uma criança que supostamente foi adotada ilegalmente), pois trata-se de uma investigação sob a responsabilidade dos "Carabinieri", mas por um imperativo moral ele ao menos precisa saber qual a motivação e as circunstâncias do fato. Há algo de teatral neste volume, o ritmo é lento, como se cada tema precisasse maturar por bastante tempo antes de seguir-se ao próximo, criando um contínuo suspense. Brunetti sabe que de fato não há um crime a ser investigado, mas não consegue deixar de lado a oportunidade de estudar uma variedade nova do comportamento humano, perscrutar a moral serpeante dos hipócritas, refletir como se justificam os próceres da "Lega Nord", o partido político italiano que advoga a separação da Padânia (todo o norte) do resto do país. Paola, Vianello e sobretudo o sereníssimo Conde Orazio Falier, pai de Paola, o ajudam a entender vários aspectos da trama. Assim como "Veneno de cristal", "Pedras ensanguentadas", "Provas manipuladas" e "Assassínio na academia" esse volume foi editado em Portugal e oferece ao leitor o prazer extra de apresentá-lo a palavras incomuns, que a cada página brotam e o faz sorrir, cúmplice. Adorei saber o significado de coscuvilhice. Que palavra! Enfim, outro bom volume desta série. E vamos ao próximo, seguro que sim. Vale! 
Registro #1320 (romance policial #77) 
[início: 15/08/2017 - fim: 21/08/2017]
"Quem sofre são as crianças" (Brunetti #16), Donna Leon, tradução de Carlos Pereira, Lisboa: Planeta Manuscrito (Grupo Planeta), 1a. edição (2012), brochura 15,5x23,5 cm., 278 págs., ISBN: 978-989-657-291-4 [edição original: Suffer the Little Children (Zürich: Diogenes Verlag AG / Penguin Randon House Group) 2007]