Cada livro de Primo Levi é um pequeno milagre. Só registrei dele aqui "A chave estrela", um notável livro de contos que se fundem em um romance. Todavia, quem já experimentou a potência dos relatos dele sobre os horrores dos campos de concentração nazistas ("A tabela periódica", "É isso um homem") ou de sua caminhada de volta para a Itália ("A trégua"), jamais o esquece. Um dia talvez eu deva voltar a meus guardados, reler estas joias, estas pedras preciosas de sua lavra. Neste "O ofício alheio" encontramos 51 ensaios, publicados originalmente em jornais italianos, entre 1964 e 1984. São textos notáveis, onde Levi fala dos livros que lê; dos autores que preza; de seu cotidiano, como sua tentativa de aprender uma língua nova; de questões filológicas, linguísticas; de sua vida como químico - ele já aposentado e vivendo sua metamorfose como escritor, respeitado e premiado; de curiosidades sobre a vida dos animais, das plantas e do comportamento dos homens; do sentido do humano e da religião; dos fragmentos de memória e de sua biografia, sempre em constante gestação. Os ensaios, que não são densos, antes bem humorados e leves, são escritos com maestria, num tom que deveria ser emulado por todo aquele que pretenda alcançar algum relevo neste ofício, que é o de comunicar ideias e sensações através da prosa. Vale!
Registro #1387 (crônicas e ensaios #251) [início: 18/03/2019 - fim: 28/03/2019]
"O ofício alheio", Primo Levi, tradução de Silvia Massimini Felix, São Paulo: Editora UNESP, 1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 290 págs., ISBN:
978-85-393-0639-8 [edição original: L'autri mestiere, (Torino: Giulio Einaudi Editore) 1985]