De David Toscana já li os bons "Santa Maria do circo" e "O último leitor". Recentemente a editora santista Realejo publicou esse "Lontananza bar", que é um dos livros mais antigos dele, publicado originalmente em 1997. São nove contos curtos, autônomos sim, mas também algo aparentados, pois gravitam uma cidade (talvez a Monterrey natal de Toscana) e um bar (o Lontananza do título). São histórias de desilusões, de fracasso, de desesperança e solidão. Em cada uma delas uma pessoa, em geral um homem, pois nelas as mulheres são sempre coadjuvantes, passa por um momento terrível da vida e eventualmente acredita ser possível servir-se do bar como uma espécie de confessionário ou divã. Há uma cronologia sutil nas histórias. Se na primeira encontramos o proprietário do Lontananza, Odilon, ainda ativo e forte, na última ele já é memória, porém o bar continua. Estas pessoas, estes homens (Amaro, Odilon, Hildebrando, Rúbem, Alberto, Héctor, Ruço, Victor, Amílcar) vivem no bar ou próximo dele suas misérias, covardias, medos, mentiras e frustrações. O México que Toscana nos apresenta é um lugar amaldiçoado, onde os empregos desaparecem como por encanto e que dilui lentamente a dignidade e os sonhos de seus habitantes. Mesmo na história em que acompanhamos um sujeito que conseguiu se radicar no rico vizinho do norte, os Estados Unidos, o resultado é um desalento só. Não há o que invejar de quem nasceu naquela província árida e distante da fortuna. Tenho uns outros Toscana perdidos entre os guardados. Talvez seja a hora de retomá-los, lê-los com calma e atenção. Vale.
[início: 31/01/2017 - fim: 02/02/2017]
"Lontanzana bar", David Toscana, tradução de Manoel Herzog, Santos: Realejo Livros e Edições, 1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 146 págs., ISBN: 978-85-99905-92-0 [edição original: Historias del Lontananza, Ciudade de México: Editorial Joaquím Mortiz (Grupo Planeta) 1997]