quinta-feira, 29 de junho de 2017

contos holandeses

Só conheço o Daniel  Dago virtualmente, em função de nosso interesse mútuo pela Holanda. Ele é um estudioso das cousas holandesas, é um jovem tradutor e entusiasta divulgador daquele país e cultura. Eu sou apenas um disciplinado leitor de Cees Nooteboom. Recentemente o Daniel alcançou convencer uma editora brasileira a publicar cousas que ele vem traduzindo há pelo menos uma década. Felizmente foi a Zouk quem encampou o projeto dele. Que edição bonita, bem acabada, gostosa de ler. A capa-dura remete a um grafismo do Mondrian. Cada história vem acompanhada de um curto registro biográfico de seu autor. São 18 contos, de 18 escritores diferentes, escritos entre 1839 e 1939, cronologicamente distribuídos. Os contos mais antigos, seis deles, são anteriores a virada do século XIX para o XX. São as propostas mais estranhas, mais impenetráveis, que cobram mais paciência do leitor. Gostei particularmente das histórias de Frederik van Eeden (uma fábula sobre a justiça) e de Jacobus van Looy (o assustador relato da morte de uma gata). O estranhamento com os demais talvez seja similar ao que experimentamos caso fôssemos obrigado a reler autores brasileiros do século XIX. Paciência. Nos demais, ou seja, dentre os doze restantes, aqueles originalmente publicados já no século XX, encontrei historias mais próximas de meu gosto. Diverti-me com seis delas, aquelas assinadas por Carry van Bruggen, Alberto Verwey, Louis Couperus, Marcellus Emants, Simon Vestdijk e Arthur van Schendel. São propostas bem diferentes entre si, formando um panorama, como prometeu o Dago em sua boa apresentação do livro. Há contos que abusam da fantasia ou algo similar ao realismo mágico, já outros que flertam com o realismo e com experimentações modernas. De qualquer forma, mesmo nos contos mais realistas, engajados socialmente, não há artifícios bestas camuflando deficiências literárias e estruturais. Encontrei nos contos coisas bem interessantes: o relato do terrível tratamento que recebe um garoto judeu na escola ("O incompreendido", de 1907, de Carry van Bruggen); o registro político e social travestido de fábula sobre o destino de dois irmãos ("Leonard e Juliaan", de 1909, de Albert Verwey); o divertido conto sobre a compulsão que acomete um sujeito ao ouvir Wagner ("O binóculo", de 1920, de Louis Couperus); as contradições de um louco de aldeia que refletem as contradições de todos os que achincalham dele ("Um excêntrico", de 1920, de Marcellus Emants); a vertiginosa ascensão econômica de um sujeito ("O menino da lojinha de óleo", de 1929, de Theo Thijssen); o exemplar conto onde cinco minutos da consciência de um sujeito são registrados detalhadamente ("Um dois três quatro cinco", de 1933, de Simon Vestdijk) e o conto que descreve o estranho caso que provoca um dilema moral em um advogado ("Teresa Immaculata", de 1938, de Hendrik Marsman). Muito diferentes entre si essas histórias produzem encantamento e ilustração no leitor. Evoé Dago, evoé. Vamos esperar que se concretize a publicação dos demais textos de autores já traduzidos por ti. Vale. 
[início: 01/06/2017 - fim: 05/06/2017]
"Contos holandeses (1839 - 1939)", Hildebrand, Multatuli, Arnold Aletrino, Frederik van Eeden, Jacobus van Looy, Herman Heijermans, Jacob Israël de Haan, Carry van Bruggen, Albert Verwey, Louis Couperus, Marcellus Emants, Theo Thijssen, Jan Jacob Slauerhoff, Edgar du Perron, Aart van der Leeuw, Simon Vestdijkm Hendrik Marsman, Arthur van Schendel, organização, apresentação, tradução e notas de Daniel Dago, Porto Alegre: editora Zouk, 1a. edição (2017), capa-dura 16x23 cm., 240 págs., ISBN: 978-85-80490-47-3

terça-feira, 27 de junho de 2017

as brasas

Foi um colega recifense, o Francisco Fernando, zootecnista dos bons, quem falou-me deste "As brasas" pela primeira vez, com entusiasmo. Estávamos os três, ele, Marlene Cristina e eu, numa tarde quente no sul de Minas Gerais, após uma missão acadêmica, quando livros e literatura entraram na conversa. Eu havia lido apenas um livro de Sándor Márai (o bom "A amante de Bolzano"). Trata-se de um livro compacto, muito bem escrito, cerebral - é a palavra que primeiro me ocorreu. A narrativa trata de uma questão de honra, de um jogo de máscaras sobre a amizade, da tensão quase sexual que existe entre amigos de longa data, das semelhanças entre orgulho e covardia, de uma discussão sobre a solidão e a incapacidade que todos temos de compreender completamente alguém (e mesmo compreender as motivações e desejos de nós mesmos). Escrito originalmente em 1942, "As brasas" permaneceu censurado na Hungria natal de Márai até a redemocratização do país, após o esfacelamento da União Soviética e a morte dele, em 1989. Muito do livro lembra aquilo que é escrito num tom épico e marcial no excelente "Marcha de Radetzky", de Joseph Roth. Afinal, o pano de fundo da narrativa de Márai é a letargia, a inação e decrepitude do Império Austro-húngaro, mas o livro não descreve essa decadência em detalhes, como no livro de Roth, mas sim trata de algo mais fundamental e definitivo para nós, homo sapiens sapiens, que é o amor e a nossa capacidade de amar, sobretudo quando esse amor é posto à prova. Um general aposentado recebe, após quatro décadas, um colega militar de quem foi muito próximo, tanto na juventude quanto na carreira, apesar de serem de classes sociais bastante distintas. O que o leitor acompanha factualmente é a noite de jantar e conversas entre esses dois velhos militares, em aposentos iluminados por brasas bruxeleantes e povoados por suas memórias vívidas e doloridas. A expectativa, ou antes, a certeza deste encontro foi a única razão para que eles continuassem vivos boa parte das quatro décadas de afastamento mútuo. Descrever mais da trama estragaria boa parte do prazer que encontramos no livro, por isso me calo. As digressões, ou antes, o congelamento do tempo narrativo alcançado por Márai, lembram as melhores passagens de Javier Marías, senhor das narrativas onde tudo é dito de forma elíptica, por ilações, onde tudo se esclarece, convence, lentamente. Como disse um amigo, livraço! Grato pela dica meu caro Fernando, inté uma próxima (vamos a ver se aquela ideia do carnaval prospera). Lembrei de outra cousa: Curiosamente tenho um amigo chamado Sandor, o Melo. Preciso perguntar a ele se há raízes húngaras em sua família.
[início: 11/05/2017 - fim: 01/06/2017]
"As brasas", Sándor Márai, tradução de Rosa Freire D'Aguiar, São Paulo: editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (1999), brochura 14x21 cm., 172 págs., ISBN: 978-85-7164-954-5 [edição original: A gyertyák csonkig égnek 1942]

sábado, 24 de junho de 2017

nada como ter amigos influentes

Nunca havia lido nada de Donna Leon, mas conhecia algo de sua fama, dos mais de vinte romances policiais que já havia escrito, dos prêmios que havia recebido (ela ganhou o Pepe Carvalho, dedicado exatamente à literatura policial, em 2015). Quando vi a capa deste "Nada como ter amigos influentes", justamente num dia em que planejava uma viagem de volta à Veneza, não tive dúvidas que estava na hora de conhecer sua prosa. Trata-se mesmo de um bom romance policial. Claro, preciso ler mais cousas dela para entender melhor psicologia, manias e método de seu protagonista, o Comissário Guido Brunetti, mas esta primeira incursão agradou-me bastante. Assim como o Montalbano de Andrea Camilleri, Brunetti é o tipo de sujeito que combina  um entendimento prático de como funciona a complexa sociedade italiana, sobretudo nas diferentes concepções de justiça partilhadas pelos cidadãos, e de como opera a psiquê daqueles que usualmente cometem crimes, sobretudo os crimes menos notórios, de difícil condenação. Não se trata de uma narrativa onde se espelha o mundo contemporâneo, os sucessos dos dias que correm. Ao menos neste volume o comissário Brunetti fala de uma Veneza dos tempos anteriores a implantação do Euro como moeda corrente (a edição original é de 2000). Ele é casado com uma professora universitária, fato curioso, pois sabe-se que professores e policiais têm ao menos uma coisa importante em comum, já que ambos convivem com a decadência, os primeiros da capacidade de cognição das novas gerações, os últimos da moral pública praticada por quase todos atualmente. Brunetti também tem dois filhos adolescentes, mas eles pouco influenciaram a trama deste volume. O medo, ou antes, a ignorância sobre a AIDS, serve de chave para a solução de um dos problemas apresentados na história. Já o entendimento da engrenagem da corrupção institucionalizada e o uso da violência, nunca novidade para os italianos, ajuda a solucionar outro. As descrições da sociedade veneziana, o zêlo por seus segredos centenários e o cabotinismo da população parecem exemplificar muito daquilo que encontrei no bom guia histórico sobre Veneza, que li há tempos, assinado por Jan Morris. Donna Leon usa um artifício típico dos romances policiais clássicos, que é o de alternar a investigação sobre duas histórias, dois crimes, para no desfecho do livro fazer com que seu protagonista apresente a solução dos enigmas quase simultaneamente. Assim como nas histórias de Camilleri o comissário Brunetti tem em seus ajudantes personagens bem interessantes: uma secretaria  diligente, Elettra; um braço direito sempre pronto para o combate, Vianello; um médico-legista sarcástico, Bocchese; um promotor venal, Patta; um jornalista que o ajuda quando necessário. As duas histórias que se alternam tratam de drogas (o vício em heroína) e da corrupção que brota dos problemas financeiros dos indivíduos. É certo. Vou procurar mais livros desta senhora.
[início: 19/06/2017 - fim: 21/06/2017]
"Nada como ter amigos influentes (Brunetti #9)", Donna Leon, tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura, São Paulo: editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (2017), brochura 13x21 cm., 261 págs., ISBN: 978-85-359-2915-7 [edição original: Friends in High Places (New York: Penguin Books) 2000]

quarta-feira, 21 de junho de 2017

fachadas

Encontrei essa "sanfona" do Rafael Sica lá no Instituto Goethe de Porto Alegre, quando acontecia a IX FestiPoa Literária, organizada sempre pelos prodígios do Fernando Ramos. Do Sica já li os bons "Ordinário" e "Fim". Em seu "Fachadas" estão reunidas 28 ilustrações sobre o tema título do livro e 28 vinhetas, no verso delas. A contra capa diz acertadamente que trata-se de "um livro sobre uma cidade que poderia ser qualquer uma". São instantâneos urbanos, ora realistas, ora amalucados, todos eles bem humorados, críticos, silenciosos como sempre nos trabalhos dele, evocativos de uma linguagem sutil que pode-se alcançar dominar, mas pouco praticamos, ai de nós, que é a empatia. Meu primeiro instinto foi o de separar as folhas da sanfona e enviar como cartões postais, mas como destruir uma obra de arte? Iinicialmente eu iria classificar "Fachadas" na tag "hq's, cartuns e mangás" deste blog, mas preferi identificá-lo como "livro de arte". Much more suitable!. O trabalho dele pode ser acompanhado na página: /RafaelSica. Bom divertimento.
[início/fim: 03/06/2017]
"Fachadas", Rafael Sica, São Paulo: editora Lote 42, 1a. edição (2017), sanfona/concertina 10,5x15 cm., 32 págs., ISBN: 978-85-66740-23-3

sexta-feira, 16 de junho de 2017

rua do odéon

Hoje é Bloomsday, o glorioso Bloomsday deste 16 de junho de 2017. Gosto sempre de tentar marcar a data com alguma citação literária em homenagem a James Joyce ou a seu "Ulysses". Neste ano escolhi este delicioso livrinho de Adrienne Monnier. No final de 1915 ela abriu uma livraria (que também funcionava como biblioteca de empréstimos para assinantes), a lendária "La Maison des Amis des Livres". Manteve a livraria até meados de 1951. Por ela passaram quase todos os escritores, compositores, poetas, jornalistas, pensadores, filósofos, intelectuais mais importantes da primeira metade do século XX, franceses e não franceses. Entusiasta dos livros e da literatura ela não apenas vendia e emprestava livros de poetas e escritores, sobretudo os modernos, referência da primeira metade do século XX, como editava aqueles que lhe pareciam inovadores e/ou importantes. Ela também editou revistas literárias, como a Le Navire d'Argent e La Gazette des Amis des Livres. Adrienne Monnier auxiliou Sylvia Beach, americana radicada em Paris, a fundar uma livraria igualmente icônica de Paris, a Shakespeare and Company, em 1919. Nos anos 1920 essas duas livrarias (a La Maison des Amis des Livres e a Shakespeare and Company) ocupavam a rue de l'Odeón, no Quartier Latin, à margem esquerda do rio Sena), posteriormente a Shakespeare and Company mudou-se para a rue de la Bûcherie, no mesmo bairro. Elas duas se envolveram com o projeto de edição do Ulysses. Sylvia Beach com a edição original, em inglês, em 1922. Monnier com a tradução francesa, publicada em 1929, feita por Auguste Morel (com a assistência de Stuart Gilbert, Valery Larbaud e o próprio Joyce). "Rua do Odéon" foi publicado originalmente em 1960, cinco anos após o suicídio de Adrienne Monnier. Ela em vida manifestou o desejo que os textos nele reunidos, anteriormente publicados em jornais ou apenas distribuídos aos amigos, fossem publicados em livro. O leitor encontra quatro conjuntos de textos. O primeiro, "Os amigos dos livros", têm a ver com sua vocação para livreira e a fundação da livraria, são textos escritos entre 1918 e 1939. O segundo conjunto, "Rua do Odeón" reune textos esparsos sobre o exercício do ofício de livreira, escritos entre 1926 e 1954. O terceiro conjunto reúne artigos que ela pretendia incluir em uma obra sem ligação com sua vida de livreira, são textos sobre suas viagens à Londres e a Itália, ainda na juventude, e sobre sua formação acadêmica. O livro inclui também relatos de contemporâneos dela, alguns produzidos ainda no início de sua carreira, de 1919, outros já posteriores a sua morte, obviamente elegíacos. Falar dos frequentadores da livraria de Adrienne Monnier ou das pessoas que são citadas no livro é fazer um censo daquilo que de melhor a Europa produziu na primeira metade do século XX. Ela trata de Fargue a Valéry, de Léautaud a Rilke, de Beckett a Hemingway, de Benjamin a Joyce, de Prévert a Cocteau, de Dujardin a Gide, de Aragon a Breton, de Apollinaire a Claudel, de Larbaud a Poulenc, de Reverdy a Perse. Que mulher industriosa. Viva Monnier. Viva Beach. Viva Joyce. Viva o Bloomsday. 
[início:24/05/2017 - fim: 29/05/2017]
"Rua do Odéon", Adrienne Monnier, tradução de Júlio Castañon Guimarães, Belo Horizonte: editora Autêntica, 1a. edição (2017), brochura 14x21 cm., 239 págs., ISBN: 978-85-8217-613-9 [edição original: Rue de l'Odéon (Paris: Les éditions Albin Michel) 1960, 1968, 2009]

quinta-feira, 15 de junho de 2017

vista del amanecer en el tropico

Comprei esse livro com don Miguel, na última feira do livro de Santa Maria. Coloquei o volume em uma pilha de leituras futuras, mas eis que numa noite, folheando besta o mimo recém comprado, noto por uma assinatura e carimbo (não um ex libris) que se tratava de um volume da antiga biblioteca do Roberto Valfredo Bicca Pimental, o velho e bom santa-mariense da gema, o Tatata Pimentel, morto em 2012. A ventura dos livros é algo que nem o mais imaginativo dos escritores saberá prever. Nem mesmo o acaso, o azar, talvez a estocástica, são tão inventivos quanto as narrativas dos destinos dos livros que acabamos descobrindo um dia. Pois este volume talvez seja uns dos que foram vendidos pela família para um sebo porto-alegrense, que foi comprado e descartado por alguém inominado, que chegou às mãos de don Miguel, na Calle Corrientes, e ato contínuo foi adquirido por mim. "You are mine, said he", já disse o cummings. Bueno. "Vista del amanecer en el tropico" reúne 101 pequenos fragmentos (viñetas, diz o autor em algum ponto) que tratam da história factual cubana. Trata-se de uma história em flashes, em episódios curtos, onde as sublevações, as contendas, os mártires, as revoluções se sucedem e se acumulam, como num palimpsesto de desgraças. Os primeiros remetem aos tempos pré colombianos, às lutas entre os indígenas que precederam a chegada dos europeus e africanos à ilha. As últimas podem ser associadas aos comandantes da revolução cubana, do início dos anos 1960. Mas Cabrera Infante nunca cita textualmente os nomes dos artífices da história cubana que ele conta. Antes faz uso de imagens poderosas, sejam de gravuras, desenhos, quadros ou fotografias que descreve com sua prosa sempre irônica e precisa, todos de alguma forma relacionados a personagens ou eventos de uma história de desgraças contínuas: suicídios, mortes violentas, perversões, discursos fúnebres, últimas palavras, sangue, fugas frustradas, fuzilamentos, torturas, mentiras, massacres, tramas cruéis. Um ou outro fragmento oferece uma espécie de descanso, fragmentos onde se fala de um dente cariado, de uma fruta madura que se come, de algo cômico, de um nascer do dia radiante, de um jogo de xadrez, da geografia de certos lugares, de algo fortuito que distrai os combates revolucionários da vez. Há algo nele que ecoa um poema do John Donne. O livro foi publicado originalmente em 1974, quando Cabrera Infante já vivia seu particularmente doloroso exílio (ele amava genuinamente sua Cuba fundamental). De qualquer forma, de lá para cá só se sabe de mais mortes e desgraças naquele país, somente admirado por escravos mentais, lorpas voluntários ou canalhas de ocasião. Mas a grande arte sempre sobrevive aos canalhas, por mais longevos e cruéis que sejam. E viva Guilhermo Cabrera Infante (e viva Tatata Pimentel por ter comprado um dia este livro). Evoé.
[início:19/05/2017 - fim: 25/05/2017]
"Vista del amanecer en el tropico", Guilhermo Cabrera Infante, Madrid: Randon House Mondadori (coleccíon Narrativa), 1a. edição (1987), capa-dura 14x21 cm., 226 págs., ISBN: 978-92-03092-72-2 [edição original: Letras del exilio, 1974]

segunda-feira, 12 de junho de 2017

romancista como vocação

Publicado originalmente em uma revista japonesa, "Romancista como vocação" reúne onze ensaios curtos. Haruki Murakami fala de seu ofício, conta algo de sua vida, inclusive a literária; oferece conselhos para jovens escritores; reflete sobre as alegrias e as dificuldades de sua profissão. Há alguma repetição de argumentos e de passagens de sua vida pessoal, mas nada que aborreça especialmente o leitor. Esse livro pertence a categoria de manuais de ofício. Todo escritor de sucesso já foi convidado a produzir algum. Lembro das versões de Mario Vargas Llosa, Ohran Pamuk e Umberto Eco (cito só essas três, mas há dezenas, para todo gosto e função, inclusive algumas sofríveis em seu cabotinismo ou bisonhice). A leitura é agradável. Murakami é realmente franco em suas observações. Ele defende que é o exercício de observar pessoas e situações que robustece os futuros atos criativos, que é o acúmulo de décadas de leitura que povoa a imaginação do escritor, que são a paciência e a disciplina diária da escrita que gera material digno de ser repetidas vezes burilado antes de tornar-se algo que alguém além do próprio escritor possa ler e opinar. O livro está repleto de ideias e sugestões razoáveis, não particularmente novas ou inventivas, mas honestas em sua descrição. O único argumento que acho difícil de defender, pois me parece específico demais de sua personalidade antes que uma regra que possa ser generalizada, é a prática de exercícios físicos diários para compensar o esforço criativo (ele descreve esse ponto detalhadamente no bom "do que eu falo quando eu falo de corrida". Assim como em sua literatura, Murakami não glamoriza, não usa palavras difíceis para dizer óbvio, não é pedante. Os capítulos iniciais são majoritariamente sobre técnicas e procedimentos literários, os quatro ou cinco finais são mais confessionais, não taxativos (estes me parecem os melhores do conjunto). Ele fala sobre sua relação com prêmios literários, sobre o que ele entende por originalidade, sobre como construir personagens e escolher assuntos, sobre o sistema educacional japonês, sobre o público leitor, sobre a relação com colegas escritores e a crítica, sobre sua necessidade de afastar-se de grupos - e até de seu país - para poder escrever em paz. Em uma época onde muita gente acredita ser fácil e possível escrever e publicar qualquer coisa que lhe venha à mente, um livro deste calibre tem mesmo valor. Mas sabemos, ai de nós, que a vaidade sempre será senhora da razão, impedindo que os escritores se inspirem nas palavras de Murakami (sejam eles neófitos ou já vetustos). Eu mesmo conheço vários beletristas capazes de continuamente publicar lixo apenas pela efêmera glória de lerem seus nomes impressos na capa de um livro. Dá pena, mas não muita pena. 
[início: 08/05/2017 - fim: 11/05/2017]
"Romancista como vocação", Haruki Murakami, tradução de Eunice Suenaga, Rio de Janeiro: Editora Schwarcz (Alfaguara / Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (2017), brochura 15x23 cm., 166 págs., ISBN: 978-85-5652-038-8 [edição original: Hokugyo Toshite no Shosetsuka / 職業としての小説家 (Tokyo: Suitchipaburisshingu) 2015]

sexta-feira, 9 de junho de 2017

o tribunal da quinta-feira

No "Em busca do tempo perdido" há uma passagem em que Elstir, um respeitado, discreto e já idoso pintor, confessa ao narrador ter sido ele, em uma odiosa encarnação da juventude, um sujeito frívolo e tolo, chamado Biche ou Tiche (Proust é cruel inclusive por fazer seu narrador não lembrar exatamente o nome do sujeito). Todavia Elstir não confirma a descoberta desta identidade passada com medo de ficar exposto, arranhar sua reputação ou por culpa, antes, com sabedoria, aproveita a oportunidade para ensinar ao jovem e arrivista narrador da inevitabilidade das metamorfoses pelas quais passamos, falando da dolorosa experiência de amadurecer e conviver com todas as lembranças dos atos passados, bons e maus. O narrador de Michel Laub, nesse poderoso "O tribunal da quinta-feira" experimenta algo similar. Ao ter uma indiscrição do passado revelada, passa por uma súbita metamorfose, e acaba moralmente condenado a enfrentar o juízo de uma pessoa, no tal tribunal da quinta-feira do título do livro. Esse encontro acontece no último parágrafo do livro, o réu já desarmado de seu natural sarcasmo. Jamais saberemos o veredito. Laub habilmente oferece ao leitor acompanhar o processo dessa metamorfose, envolver-se no emaranhado factual das circunstâncias da indiscrição (ridícula, irrelevante, casual, como sempre acontece no mundo real). Ficamos a saber das ponderações, providências, tomadas de decisão desse narrador. O intrincado da cousa, cerebral e desapaixonada, lembra muito os melhores Philip Roth. A fronteira elástica e permeável entre a vida pública e privada em nossos dias é uma espécie de fantasma que assombra todo o livro. Como já disseram personagens de Javier Marías em "Tu rostro mañana": "Ninguém nunca deveria contar nada, (...) mas calar é a grande aspiração que ninguém realiza". A falta de privacidade é um mal da modernidade, apesar da hipocrisia não ser invenção nem um pouco recente. Laub realmente alcançou concentrar num livro, que é curto e se deixa ler em poucas horas, algo da vertigem deste nosso tempo inapelavelmente terrível. Muito interessante mesmo. Enfim, há livros que nem precisamos ler para sabermos que são muito bons. Caso sejamos capazes de conter nosso açodamento, o guardamos para um final de semana especial ou feriado, ou ainda postergamos as alegrias estéticas para dias felizes que, muitas vezes, nunca chegam. Comprei meu volume ainda nas festas de final de ano, logo após a morte de minha mãe e deixei o livro perdido em meus guardados. Felizmente encontrei um dia ideal para ler. Evoé Laub, evoé.
[início/fim: 30/05/2017]
"O tribunal da quinta-feira", Michel Laub, São Paulo: editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (2017), brochura 14x21 cm., 183 págs., ISBN: 978-85-359-2832-7

terça-feira, 6 de junho de 2017

apenas respire

"Apenas respire" é um conto de fadas urbano, uma fábula contemporânea. A narradora/protagonista da história, Isabella, é uma mulher jovem, de trinta e poucos anos. Após experimentar carreira como advogada e alguns aborrecimentos torna-se professora universitária e produtora musical. Por conta de um projeto de pós-graduação ela viaja para os Estados Unidos e passa uns meses trabalhando com uma banda de rock de lá, banda e músicos que ela conhece muito bem, como fã. Isso Rossana Almeida nos conta no primeiro capítulo de seu romance, em três ou quatro páginas. O que o leitor acompanha nos demais capítulos do livro são desdobramentos desta viagem, os destinos cruzados entre a protagonista e o líder da banda, as opções profissionais que surgem após esta experiência, as muitas viagens que ela faz, as conversas que tem com amigos sobre seus sentimentos, sobre aquilo que é provocado nela em outros relacionamentos. Trata-se de um romance otimista, que fala de habilidade que muitas pessoas têm de continuar lutando por seus sonhos, que encontram prazer no cotidiano, sem dúvidas transcendentais ou demasiadas preocupações sobre o futuro da humanidade. O formato, público alvo e a proposta do livro permitem vários clichês, repetições desnecessárias sobre o enredo, a previsibilidade de alguns sucessos e o acúmulo de informações irrelevantes. Todavia nada disto rouba do leitor a curiosidade sobre o destino da protagonista e o prazer de ler o livro. Certamente ouviremos falar mais da autora e de sua protagonista. Vale.
[início: 17/04/2017 - fim: 24/04/2017]
"Apenas respire: Rock e perfume: Paixão no ar", Rossana Cantarelli Almeida, Porto Alegre: Pro Innovation / Grupo Multifoco (Desfecho romances), 1a. edição (2016), 16x23 cm., 342 págs., ISBN: 978-85-5996-016-7

domingo, 4 de junho de 2017

antígona, intriga e enigma

No final dos anos 1980, quando estive por algumas semanas em Stuttgart numa missão acadêmica no Max-Planck-Institut für Metallforschung (hoje aquelas instalações pertencem ao Max Planck Institute for Intelligent Systems), quis a fortuna conceder-me a oportunidade de visitar Tübingen. Na verdade, assim como Virgílio conduziu Dante pelas páginas da Divina Comédia, fui guiado até lá por um amigo daqueles dias, o Gerhard Schneider. Era verão, as flores obviamente desabrochavam sozinhas, éramos jovens e estávamos felizes ali, cervejando sem culpa, literalmente sobre o Necker, falando dos amigos paulistas. I was drowning in honey, stingless. Antes de irmos ver Utte e o pequeno Mattias, que havia nascido há poucos meses, fizemos um desvio, cumprindo uma prometida peregrinação a torre de Hölderlin. "Hier lebte und entschlief Hölderlin" dizia uma placa, e aquele lebte und entschlief ressoava como se ele fosse mesmo viver e dormir para sempre, muito além dos 34 anos que passou ali. Lembrei-me vividamente daquele dia ao começar a ler "Antígona, intriga e enigma: Sófocles lido por Hölderlin". Trata-se de um poderoso ensaio, produzido pela industriosa Kathrin Rosenfield. Esse livro é resultado de acumulada reflexão e elaboração. Uma versão curta, ainda embrionária, foi publicada primeiramente em 1999, na New Literary History; progressivamente robustecido, o texto metamorfoseou-se diversas vezes, tendo sido publicado em revistas ou livros, publicados na França, Alemanha, Brasil e Estados Unidos (a presente edição é uma tradução da versão final, publicada em inglês, em 2010). As ideias centrais do ensaio foram discutidas em eventos acadêmicos, com diversos interlocutores, sobretudo filólogos, filósofos, tradutores e especialistas em literatura. Kathrin valeu-se também de produtiva troca de ideias com Lawrence Flores Pereira, durante o processo de sua tradução de Antígona (originalmente para fins de uma encenação teatral, que aconteceu em Porto Alegre nos anos 2004 e 2005, e posteriormente publicada em livro, em 2006, como já contei aqui num registro recente). Em "Antígona, intriga e enigma: Sófocles lido por Hölderlin" Kathrin argumenta em defesa dos procedimentos de tradução de Antígona como proposto por Hölderlin em sua tradução, de 1804, e em seus ensaios, sobretudo o "Anmerkungen zur Antigonä". Para Hölderlin o texto clássico deveria ser lido com um novo olhar, a leitura deveria ser renovadora. Mas Kathrin diz que, ao contrário do que argumentam os críticos de Hölderlin, desde o inicio do século XIX, "a aparente modernização da peca apenas realça o que havia de moderno e selvagem no imaginário clássico, (...) mudando o ponto de vista a partir do qual devemos contemplar os gregos, reconhecendo nas entranhas da cultura grega o inquietante e estranho daquela época". Segundo essa argumentação, a transcriação de Hölderlin, por mais inovadora que é, também é fiel ao original de Sófocles, pois o homo sapiens sapiens grego do século V antes da era cristã compreendia o paradoxo entre a sociedade gentilica, vinculada às tradições e aos vínculos de sangue entre seus membros, e a ascensão da sociedade política, onde os fins práticos das ações dos homens justificam todas suas implicações sociais. Nas palavras de um conhecido tradutor (Kurt Meyer-Classon), devemos apreciar a tradução de Hölderlin não por ele tentar melhorar Sófocles, o que seria uma coisa ridícula de se fazer (acréscimo meu), mas porque ele recria o antigo drama clássico, renovando-o. O texto de Kathrin é especialmente detalhado, completo. Ela, ato a ato, cena a cena, a cada problema técnico ou questão complexa, discute todas as implicações das soluções tradutórias e escolhas de Hölderlin, mas o faz à luz do que se sabe da filologia grega e da antropologia estrutural neste inicio de século XXI. Trata-se de um texto técnico, complexo, que pode ser apreciado mesmo por um leitor neófito (como eu, ai de mim), desde que a leitura seja feita com disciplina e rigor. Kathrin se propõe "a fazer critica literária sem abrir mão da seriedade do pensamento controlado, permanecendo lúdica, elástica, aberta às propostas estéticas e poéticas oferecidas por Hölderlin". Acho que ela alcançou este propósito. Enfim, aprendi um bocado. O livro inclui os mimos preciosos: uma genealogia dos mitos tebanos; um curto glossário; uma detalhada bibliografia. Cabe, por fim, registrar que essa edição é resultado de uma colaboração entre a icônica editora Perspectiva, a organização social de cultura Poiesis e a Casa de Cultura Guilherme de Almeida, também ele um tradutor de Antígona. Evoé Kathrin, evoé.
[inicio: 22/05/2017 - fim: 03/06/2017]
"Antígona, intriga e enigma: Sófocles lido por Hölderlin", Kathrin H. Rosenfield, São Paulo:editora Perspectiva, 1a. edição (2016), brochura 11x23 cm., 224 págs., ISBN: 978-85-273-1069-7 [edição original: Sofocle's art, Hölderlin's insight (Aurora/Colorado: Davies Group) 2010]

sábado, 3 de junho de 2017

detalhes de um pôr-do-sol

Os treze contos incluídos nesta coletânea foram escritos originalmente em russo, entre 1924 e 1935. Nesta época, Vladimir Nabokov, que havia fugido da revolução soviética, vivia exilado em cidades como Berlin, Paris e Riga (na Letônia). Os contos foram publicados em jornais e revistas de emigrados que eram editadas em russo nestes países. Posteriormente, em meados dos anos 1970, os contos foram traduzidos pelo próprio Nabokov e seu filho, Dmitri, do russo para o inglês. Nabokov faz uma pequena introdução em todos os contos, onde ele discute o contexto da publicação original e as opções estilísticas oferecidas pelos títulos e passagens mais herméticas dos textos (mestre supremo da ironia, Nabokov não se furta em alertar nestas introduções, ao eventual leitor, dos erros grosseiros de interpretação dos críticos originais das histórias). Trata-se de um escritor que exige um bocado do leitor, opera num padrão de invenção que impressiona, nada é ligeiro, fraco, mal acabado, irrelevante ou sem significado). Aprendizes do ofício têm muito a aprender com o sujeito. Os contos que mais gostei foram (i) "A campainha da porta", no qual acompanhamos o desconforto de um rapaz russo que reencontra a mãe após três anos, em Berlin, justamente na hora em que ela esperava um pretendente e provável noivo; (ii) "Uma fatia de vida", onde uma mulher conta como seu cunhado tentou matar a mulher após uma separação, obrigando-a a cruzar Berlin várias vezes, tornando-a um espécie de personagem da história; (iii) "Um homem ocupado", em que acompanhamos a obsessão de um homem com a probabilidade de morrer antes de completar seus 33 anos e (iv) "Natal", onde um sujeito lembra da morte de um filho pequeno e, ao mexer em seus guardados, presencia um prodígio que redime um tanto de sua dor. Cito apenas esta terça parte dos contos, mas poderia elencar pelo menos outros quatro igualmente surpreendentes e ricos. Nenhum conto parece deslocado nesta excelente coleção. Enfim, preciso procurar mais coisas dele. O Nabokov sabia mesmo contar histórias. Li há tantos anos seus romances e nunca me deparei com seus contos (essa edição da Companhia das Letras é antiga, de 2002, comprei por acaso na última feira do livro de Santa Maria, do Ricardo, lá da Disco Voador). 
[início: 07/05/2017 - fim: 15/05/2017]
"Detalhes de um pôr-do-sol", Vladimir Nabokov, tradução de Jorio Dauster, São Paulo: editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (2002), brochura 14x21 cm., 173 págs., ISBN: 978-85-359-0267-8 [edição original: Details of a sunset and others stories (New York: McGraw-Hill) 1976]

quinta-feira, 1 de junho de 2017

antígona

Talvez por ter sido incorporada por Freud ao núcleo central da teoria psicanalítica, a história de Édipo é conhecida mesmo por quem dificilmente lê sobre os mitos gregos. Édipo é o sujeito que mata o pai, Laio, rei de Tebas, casa-se com a mãe, Jocasta, torna-se rei de Tebas, tem filhos com sua mãe e pune a si mesmo vazando seus olhos, quando finalmente descobre o inusitado de sua situação. Vários dramaturgos gregos escreveram peças baseadas neste mito. Sófocles, que viveu no quinto século antes da era cristã, foi um deles. Antígona foi composta em 442 a.C.. Quando tornou-se rei de Tebas, Édipo teve quatro filhos, dois homens (Etéocle e Polinices) e duas mulheres (Ismena e Antígona). Após o exílio do pai (numa das versões do mito), Etéocle e Polinice lutam pelo poder em Tebas e morrem em combate. Creonte, general e principal conselheiro de Tebas, irmão de Jocasta, mãe dos irmãos mortos, assume a regência. A peça começa com Sófocles apresentando uma situação complexa: Creonte decide que à Polinices, que insurgiu-se contra o irmão com ajuda de forças estrangeiras, não se deve dar rituais funerários apropriados; decide também que se alguém desafiar esta resolução estará cometendo um crime contra o estado e deverá ser punido. Como Antígona desobedece esta ordem e enterra o irmão, Creonte decide que ela deverá ser morta. Na interpretação tradicional da peça o que se discute é se os atos de Creonte são justos (já que ele zela pela cidade e suas leis) ou intempestivos (já que com a morte de Antígona e sua irmã ele se alçaria a condição de tirano e regente de fato da cidade). De forma especular o que a peça discute é se Antígona é mesmo duplamente heroína, pois honra o irmão e também defende-se da tirania de Creonte explicitando sua condição de noiva epikler (estatuto jurídico que garante à filha de um rei morto sem descendência o direito e o dever de parir um descendente para seu pai, mantendo a linhagem de reis que a une diretamente à Cadmo, fundador de Tebas). Os desdobramentos dos vários impasses da trama (lei natural versus estatutos legais, obediência civil versus amor fraternal) são sutis demais para que sejam registrados aqui. Cabe ao leitor curioso ir ao texto e descobrir como Sófocles conduz sua tragédia até o desfecho. A tradução de Lawrence Flores Pereira, em dodecassílabos, foi encenada com sucesso nos anos 2004 e 2005, em Porto Alegre. Lawrence segue o procedimento utilizado por Hölderlin, onde as partes do coro (estásimos) e as partes dramáticas (episódios) são formalmente separadas. Nunca vi a peça encenada, mas a leitura do texto é muito agradável. Os versos são poderosos em associações, com um léxico rico e ao mesmo tempo, de compreensão clara. Nada parece rude ou fora do lugar. O livro inclui vários mimos: uma longa introdução e uma seção de notas comentadas, ambas assinadas por Kathrin Rosenfield, hiper especialista no assunto e colaboradora de Lawrence Pereira em vários projetos tradutórios;  um seção de comentários do tradutor, onde ele elenca suas escolhas e compromissos ao verter o texto clássico para o português lido e falado; um glossário de termos gregos e uma detalhada bibliografia. Que belo livro. Evoé Lawrence, evoé. Em tempo: Em breve foi registrar aqui um livro da Kathrin (Antígona: Intriga e enigma), onde ela discute a leitura de Hölderlin da peça. Logo veremos.
[início:16/04/2017 - fim: 18/05/2017]
"Antígona", Sófocles, tradução de Lawrence Flores Pereira, Rio de Janeiro: editora Topbooks, 1a. edição (2006), brochura 16x23 cm., 203 págs., ISBN: 978-85-7475-124-3 [edição/encenação original: Atenas, 442 a.C]