Todo sujeito curioso sobre literatura contemporânea fará a si um grande bem mantendo por perto um exemplar deste "
Por que ler os contemporâneos?", editado pelo industrioso povo da
Dublinense (a organização/seleção de escritores e resenhistas ficou a cargo de Léa Masina - respeitada professora porto-alegrense - e três jovens escritores: Daniela Langer, Rafael Bán Jacobsen e Rodrigo Rosp). Trata-se da reunião de 101 breves resenhas (ou verbetes) que apresentam e/ou comentam e/ou descrevem escritores contemporâneos. O critério chave para a definição do que é ser um autor contemporâneo foi o de que o escritor tivesse publicado ao menos um livro neste século XXI. O autor mais velho resenhado nasceu em 1911 (Naguib Mahfouz, prêmio Nobel de 1988) e os mais jovens são Chimamanda Adichie, Jonathan Foer e Ondjaki (nascidos em 1977). Um décimo das escolhas já recebeu o Nobel de literatura (além do Mahfouz, também Günter Grass, Herta Müller, Imre Kertész, J.M. Coetzee, Le Clézio, Kenzaburo Oe, Orhan Pamuk, Toni Morrison e V.S. Naipul). Como já nos ensinou Umberto Eco listar e classificar coisas é um exercício disciplinador que inevitavelmente provoca vertigens (no sentido que podemos ficar tontos e desfalecer sob uma miríade de camadas de informações, simplesmente sermos tragados pelo acúmulo de informações). Diariamente centenas de livros são editados e divulgados. Por mais que um sujeito se esforce ele lerá apenas uma fração minúscula daquilo que será editado durante seus anos de vida como leitor praticante. Fiquei surpreso de que eu, um imodesto leitor contumaz, tenha lido disciplinadamente apenas 40 dos 101 autores listados. E para complicar ainda mais a cousa, sabemos todos que as pautas dos jornais, revistas eletrônicas e demais mídias especializadas em literatura (assim como o que é apresentado nas estantes das grandes redes de livrarias) experimentam e são definidas por pressões econômicas, políticas e/ou ideológicas que invariavelmente distorcem a apreciação do público. Assim, o que nos faz verdadeiramente escolher um determinado autor em detrimento de centenas de outros? Talvez só o acaso, só as circunstâncias, só a obrigação férrea surgida de uma necessidade, um edital ou concurso. A proposta de Léa Masina e seus colegas é oferecer ao leitor uma espécie de manual onde simultaneamente somos apresentados a biografia de um determinado autor, a uma seleção de suas obras mais importantes e a descrição das qualidades desta. Como seria de se esperar de uma seleção deste tipo (e como cada resenhista foi escolhido por conta de sua admiração e/ou conhecimento específico de um determinado autor) há um viés francamente favorável em quase todas as resenhas (elas lembram o tom daquela antiga coleção de títulos da editora brasiliense, "
Encanto Radical", na qual sobretudo a filiação direta a uma biografia definia os textos biográficos editados). O resultado final do conjunto é muito bom. O sujeito não precisa ler o livro de capa a capa, basta consultá-lo de tempos em tempos para alcançar ajuda antes de aventurar-se com um novo autor ou voltar a um velho conhecido. A seleção foi bastante feliz, inclusive quando consideramos a distribuição geográfica dos escritores. Um quinto dos autores escolhidos é americano e quase um terço de europeus (duas maiorias naturais para nós brasileiros, imersos numa tradição que valoriza a cultura destas duas regiões), mas encontramos também onze escritores africanos, oito brasileiros, doze outros latino-americanos, oito do extremo oriente, seis do oriente médio e cinco do leste europeu. A edição é muito bem cuidada, diagramada de um jeito que torna a leitura realmente estimulante. Léa Masina assina uma curta apresentação onde explica a motivação do livro. Os editores incluíram no final um conjunto de curiosidades associadas ao processo de produção do livro (a logística de reunir 101 contribuições distintas não deve ter sido nada fácil). Os resenhistas se apresentam majoritariamente como professores universitários, jornalistas, escritores e estudantes, mas também encontramos no grupo advogados, médicos, publicitários, psicólogos e cineastas. No meu caso, como leitor, as resenhas funcionaram nos dois sentidos: concordei com várias sobre autores que conheço bem (mas também torci o nariz para o entusiasmo de algumas) e decidi continuar ignorando por uns tempos um bom punhado de autores listados cujas resenhas não conseguiram despertar meu interesse. Mas não é exatamente essa a função de um livro assim? Parabéns doña Léa, belo trabalho. E parabéns ao povo da Dublinense. Os autores resenhados são: Alan Hollinghurst, Alan Pauls, Alejandro
Zambra, Alessandro Baricco, Amin Maalouf, Amitav Ghosh, Amos Oz, Andrea
Camilleri, António Lobo Antunes, Antonio Tabucchi, Arturo
Pérez-Reverte, Atiq Rahimi, Bernardo Carvalho, Bernhard Schlink, Bret
Easton Ellis, Carlos Ruiz Zafón, César Aira, Chico Buarque, Chimamanda
Ngozi Adichie, Chinua Achebe, Chuck Palahniuk, Cormac Mccarthy,
Cristovão Tezza, David Foster Wallace, Don Delillo, Dulce Maria Cardoso,
Enrique Vila-Matas, Gonçalo M. Tavares, Günter Grass, Haruki Murakami,
Héctor Abad Faciolince, Herta Müller, Ian Mcewan, Imre Kertész, Inês
Pedrosa, Irvine Welsh, Ismail Kadaré, Ivan Klíma, J. M. Coetzee, J. M.
G. Le Clézio, James Ellroy, Javier Cercas, Javier Marías, Javier Moro,
Jeffrey Eugenides, Jennifer Egan, João Gilberto Noll, John Banville,
Jonathan Franzen, Jonathan Littell, Jonathan Safran Foer, Jorge Semprún,
José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto, Joyce Carol Oates, Kazuo
Ishiguro, Kenzaburo Oe, Kyung-Sook Shin, Laura Restrepo, Lionel Shriver,
Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Mario Bellatin, Martin Amis, Martín
Kohan, Mia Couto, Michael Chabon, Michael Cunningham, Michel
Houellebecq, Miguel Sousa Tavares, Milorad Pávitch, Milton Hatoum,
Naguib Mahfouz, Neal Stephenson, Neil Gaiman, Nick Hornby, Nicole
Krauss, Ondjaki, Orhan Pamuk, Paul Auster, Paulina Chiziane, Pepetela,
Péter Esterházy, Philip Roth, Ricardo Piglia, Roberto Bolaño, Salman
Rushdie, Sérgio Sant’anna, Stefano Benni, Táriq Ali, Teju Cole, Thomas
Pynchon, Tomás Eloy Martinez, Toni Morrison, Umberto Eco, V. S. Naipaul,
Valter Hugo Mãe, Victor Pelevin, W. G. Sebald, Zadie Smith, Zoé Valdés. E os resenhistas são:
Aguinaldo Medici Severino,
Alessandro Garcia, Aline Job, Altair Martins, Amanda Guizzo Zampieri,
Ana Carolina Porto, André Corrêa Rollo, Andrea Kahmann, Anna Faedrich,
Anselmo Peres Alós, Antônio Xerxenesky, Arthur Tertuliano, Beatriz
Viégas-Farias, Benhur Bortolotto, Bernardo Moraes Bueno, Betina Mariante
Cardoso, Biagio D’angelo, Bruno Mattos, Bruno Mazolini De Barros, Caio
Yurgel, Caleb Faria Alves, Camila Doval, Camila Gonzatto,
Camila Von Holdefer, Carlos André Moreira,
Carlos Henrique Schroeder, Carmen
Silveira, Celso Gutfreind, Charles Kiefer, Cíntia Lacroix, Cíntia
Moscovich, Cláudio Laks Eizirik, Cristiano Baldi, Cris Moreira, Daniela
Langer, Daniel Galera, Davi Boaventura, Diego Grando, Diego Petrarca,
Donaldo Schüler, Elaine Indrusiak, Eric Novello, Felipe Polydoro,
Fernanda Lisbôa, Fernando Mantelli, Fernando Neubarth, Flavio Torres,
Gabriela Silva, Gerson Roberto Neumann, Gilda Neves Bittencourt,
Guilherme Smee, Gustavo Machado, Gustavo Melo Czekster, Helena
Tornquist, Helena Terra, Joana Bosak, João Armando Nicotti, José Carlos
Calich, José Francisco Botelho, Juarez Guedes Cruz, Julia Dantas,
Juliana Grünhäuser, Juremir Machado Da Silva, Kelli Pedroso,
Kelvin Falcão Klein, Léa Masina, Leila De Souza Teixeira, Lisiane Gularte De
Carvalho,
Luís Dill, Luis Felipe Abreu, Luís Francisco Wasilewski, Luisa
Geisler, Luiz Paulo Faccioli, Marcela Bordin, Marcelo Spalding, Maria
Eunice Moreira, Michael Korfmann, Milton Ribeiro, Moema Vilela, Monique
Revillion, Paloma Laitano, Paula Renata Lucas Collares, Paulo Ricardo
Kralik, Pedro Mandagará, Rafael Bán Jacobsen,
Reginaldo Pujol Filho,
Renata Farias De Felippe, Renato Tardivo, Ricardo Barberena, Rita Lenira
Bittencourt, Robertson Frizero, Rodrigo Rosp,
Samir Machado De Machado,
Sara Viola Rodrigues, Susana Espíndola, Tailor Diniz,
Taize Odelli,
Vera Cardoni, Vitor Necchi, Vivian Nickel, Waldomiro Manfroi.