De Luiz Ruffato só havia lido, há quase duas décadas, o bom "Eles eram muitos cavalos". Noutro dia achei perdido em meus guardados "O verão tardio", livro mais recente dele, publicado em 2019. Não é um romance para leitores sensíveis, deprimidos, ou leitores que estejam, nestes dias sombrios de pandemia, isolados e/ou particularmente preocupados com o futuro e o destino, com a saúde e a morte. Digo isso pois Ruffato descreve a realidade cruel deste desgraçado Brasil, um país de contínuo fracasso, de auto-engano, de hipocrisia, de fuga, de gente que se orgulha de sua estupidez, de indivíduos que voluntariamente tornam-se escravos mentais de partidos políticos, de ideologias, de completos canalhas. "O verão tardio" é um livro bem escrito, onde se destaca a linguagem, os diálogos fundidos à narrativa, à forma escolhida pelo autor para contar sua história. A narrativa gravita a vida de um sujeito de seus sessenta anos, Oséias, que volta a sua cidade natal, Cataguases, em uma espécie de balanço final de sua vida. Acompanhamos catálogos de fragmentos de sua história de vida, seu casamento e divórcio, sua relação com a família (pais e irmãos), seus amigos, sua cidade, seu ofício profissional. Todas as mazelas do Brasil são elencadas no livro em algum momento. Todos os temas que nos assombram há décadas são descritos. Ruffato não pontifica, deixa ao leitor o juízo ou simpatia pelos personagens que vagam por seu livro como fantasmas, em contínuo transe, todos eles igualmente lamentáveis, tristes, fracassados, à beira de um surto psicótico. Enfim, livro interessante, mas acho eu, o menor dos anões desta paróquia, que seja melhor que os leitores deixem para lê-lo em dias menos cruéis, menos terríveis, menos vagabundos, menos trágicos. Vale!
Registro #1554 (romance #385)
[início: 20/06/2020 - fim: 21/06/2020]
"O verão tardio", Luiz Ruffato, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras / Penguin Random House), 1a. edição (2019), brochura 14x21 cm., 232 págs., ISBN: 978-85-359-3211-9