Foi don Marcelo Sahea, senhor de potentes poemas visuais, quem me falou com alegria sobre "Cujo", livro de estréia de Nuno Ramos no mundo da ficção. Nuno é um respeitado artista plástico, mas tem produzido curiosos livros de ensaios e de poemas em prosa, dele já resenhei aqui Junco, Ó e O mau vidraceiro. Fiquei de pedir a Sahea o empréstimo do livro, mas acabei por me açodar e encomendei-o de uma vez. É um texto difícil, mas que devolve ao leitor imagens, construções, aforismos e idéias muito interessantes. Nuno Ramos faz uma digressão poética da física dos materiais, da química de processos industriais, da biologia ou botânica do mundo vivo que cerca o homem, das metamorfoses entre o orgânico e o mineral. Ele parece falar sobre seu ofício, quando junta e transforma materiais para produzir arte e conceitos, mas ao descrever esta experiência ele nos apresenta um admirável mundo primevo, onde se desnuda a memória que nossos tecidos, sangue, fluidos e ossos têm de seu passado mineral. Inspirado pelo livro fiquei a pensar sobre muitas coisas: sobre a forma como coisas inanimadas se auto-organizaram, há milhões de anos; sobre como a beleza desabrocha do que está podre; sobre o fato do homem ser uma eterna criança que mal aprende, ou aprende mal, a entender as funções de seu corpo; sobre como apurar os sentidos para experimentar a interação da luz com a matéria. Divertido. [início 30/06/2012 - fim 22/07/2012]
"Cujo", Nuno Ramos,
Rio de Janeiro: editora 34, 2a.
edição (2011), brochura 12x18 cm, 88 págs.
ISBN: 978-85-85490-14-0 [edição original: 1993]
3 comentários:
Então lemos o mesmo livro, Guina! Desconfiei que gostaria. aBrossa!
Que lindo comentário e que livro interessante,
abraço, clara
Que lindo comentário e que livro interessante,
abraço, clara
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