Comprei esse exemplar de "Vidas escritas" ainda em outubro passado, mas guardei-o num estoque de cousas preciosas e raras, para desfrutá-lo com vagar, sem perturbações e aborrecimentos, lê-lo (relê-lo, na verdade) com calma, como sempre deveríamos fazer, mas, ai de nós, não fazemos. Mas encontrei tempo e tranquilidade nas últimas semanas para dedicar-me a ele. Essa é uma versão ampliada (com poucas correções e acréscimos na verdade) da edição original, de 1992, que já li e já comentei aqui. São três conjuntos de textos. O mais extenso, "Vidas escritas", inclui vinte curtas biografias ou
mais bem relatos biográficos de escritores fortes e seminais do século
XX (Willian Faulkner, Joseph Conrad, Isak Dinesen, James Joyce, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, Henry James, Arthur Conan Doyle, Robert Louis Stevenson, Ivan Turgueniev, Thomas Mann, Vladimir Nabokov, Rainer Maria Rilke, Malcolm Lowry, Madame du Deffand, Rudyard Kipling, Arthur Rimbaud, Djuna Barnes, Oscar Wilde, Yukio Mishima, Laurence Sterne). Os textos foram escritos
originalmente para uma revista espanhola (Claves de Razón Práctica) e
são mesmo objetivos, claros e bons de ler. O livro inclui também seis
relatos de uma natureza diferente. Na seção "Mujeres fugitivas' Marías fala de seis mulheres que foram
escritoras, mas que se tornaram mais bem arquétipos de mulheres fortes e
dominantes, mulheres à frente de seu tempo. Elas são: Lady Hester Stanhope, Vernon Lee, Adah Isaac Menken, Violet Hunt, Julie de Lespinasse, Emily Brontë. Este seis textos são curiosos, mas um tanto
irregulares (talvez porque não sejam de escritoras que conhecemos tão bem - à exceção de Emily Brontë). A última parte do livro enfeixa trinta e sete fotografias de escritores que são brevemente comentadas num ensaio intitulado "Artistas perfectos" (a perfeição - no caso - sendo um sinônimo para mortos). Javier Marías fala do
engajamento destes artistas/escritores à sua arte e termina o ensaio apresentando um boa bibliografia, que pode servir de guia para aqueles que vagam em
busca de informações sobre os escritores apresentados no livro. Enfim,
este livro é uma maravilha, um pequeno guia para entendermos um tanto
sobre um bom punhado dos melhores escritores do século XX. Na sessão
onde ele descreve as fotografias é difícil não se surpreender com a
capacidade de invenção de Marías. Mesmo quando ele é factual e objetivo
vislumbramos o poder do gênio criativo. Curiosamente Marías sempre
descreve as circunstâncias, a data, o local e eventuais detalhes mórbidos sobre a morte de seus retratados, mas nunca nada sobre o nascimento deles. Enfim, excelente livro, de um excelente
escritor.
[início: 02/04/2013 - fim: 05/04/2013]
"Vidas Escritas: edición ampliada", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Santillana Ediciones Generales) Colección J.Marías, brochura 14x23 cm., 286 págs., ISBN: 978-84-204-0344-1 [edição original: Vidas escritas (Madrid: ediciones Siruela) 1992]
2 comentários:
Foi depois que li seu primeiro post sobre esse livro que o encomendei pela Livraria Cultura. Demorou bastante para chegar, quase pensei que não viria. Mas li-o com deslumbramento. Inclusive traduzi o texto sobre Mishima e publiquei em meu blog. Assim como procurei pelo Google as mesmas fotos dos artistas perfeitos e postei lá também. Grato pela recomendação.
P.S.: a propósito, encomendei já faz um mês a edição em capa dura de Mala Indole, os contos quase completos de Marías. Lestes?
olá charlles, como vais?
grande escritor é o marías, não é mesmo?
fiz sim uns comentários sobre o "mala índole". está no http://guinamedici.blogspot.com.br/2012/11/mala-indole.html
me arisco a dizer que seus contos são ainda mais poderosos que os romances, mas isso é como comparar o Everest com o K2.
abraços.
aguinaldo
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