Aborrecido em um aeroporto e já tendo terminado os dois livros que levara comigo, inevitavelmente procurei uma livraria. A seleção em oferta era sofrível, mas por sorte consegui encontrar esse William Burroughs e um Hunter S. Thompson (sobre o qual em breve escreverei aqui). "O gato por dentro" é uma pequena série de apontamentos autobiográficos que Burroughs fez sobre seus gatos. O sujeito fala sobre os gatos como se deve, com o maior respeito e gratidão, sabedor dos muitos méritos que os gatos têm e que por fortuna partilham conosco, pobres homo sapiens sapiens que somos. A edição original incluía desenhos e grafismos de Brion Gysin, o artista plástico, músico e poeta multitalentoso que inspirou não apenas o povo da geração Beat (Burroughs entre eles), mas também a geração imediatamente posterior (David Bowie, Keith Haring, Mick Jagger). A edição original com os desenhos de Gysin custa uns três mil dólares hoje em dia. Bueno. Burroughs descreve seu livro como uma alegoria, na qual sua vida espelha-se à dos gatos que o cercam (os gatos oferecendo infinitas charadas, inventando jogos e diversões, procurando proteção). Um texto assim poderia facilmente descambar para o piegas, mas Burroughs sabe o que escreve. Há algo no texto que lembra ensinamentos zen, princípios filosóficos sofisticados. Grande Burroughs. Como não concordar com ele quando diz: "Nos somos os gatos por dentro. Os gatos que não podem andar sozinhos, e para nós há apenas um lugar". A quantas tristezas estamos condenados.
[início/fim: 20/10/2016]"O gato por dentro", William Burroughs, tradução de Edmundo Barreiros, Porto Alegre: L&PM editores, 1a. edição (2015), brochura 11x18 cm., 102 págs., ISBN: 978-85-254-1526-4 [edição original: The Cat Inside (New York: The Grenfell Press) 1986]
Um comentário:
Legal!
Nunca li nada dele, tenho um meio-preconceito contra esses 'beat',
bobagem , claro.
Postar um comentário