domingo, 17 de fevereiro de 2008

manual paulistano

Achei este livro de crônicas na CESMA e resolvi experimentar, mas o título já devia ter me preparado para o resultado final. É um livro muito irregular. O autor é um designer paulista que aparentemente tem um bom senso de observação e sabe descrever as pessoas mais ou menos exóticas que encontra no cotidiano paulista. Seus temas são aqueles comuns da vida moderna em uma cidade grande: problemas no trânsito, o conceito ambíguo de celebridade, a busca pelo sucesso pessoal e profissional, o sexo, a moda, a cultura, o dinheiro. Mesmo alinhavando suas crônicas como se quisesse contar uma história de ficção o resultado final está longe de fazer juz ao título (não que isto seja um problema, mas dá para ver que o sujeito é pretencioso). Claro, o sujeito também é articulado e sabe rechear seu texto de uma ironia genuína e algum sarcasmo decente, mas nada de muito original para alguém familiarizado com a cidade ou que não ouça tudo isto repetidas vezes (ou as conte para si mesmo e para seus amigos). Um cara menos pragmático guardaria estas curtas páginas para ver se elas sobreviveriam em um livro mais tarde na vida. Um escritor de verdade com pretenções literárias mais rígidas as jogaria fora sem medo. Mas a vaidade é sempre o mais fiel dos camareiros quando se trata de fazer escolhas literárias. O livro está aí, publicado e esperando um leitor. Eu já gastei minha hora de diversão (sim, o livro é obviamente engraçadinho).
Manual do Paulista Moderno e Descolado, Gustavo Piqueira, editora Martins Fontes, 1a. edição (2007) brochura 14x21cm, 118 pág., ISBN: 978-85-60156-23-8

Um comentário:

Daniel Estevam disse...

Curioso é perceber que o seu comentário é o de um paulistano moderno e descolado.

Sinceridade: gostei do livro, porque (eu nao sei onde vc viu que ele é pretensios) nada tem de pretensioso. E sejamos sinceros: o óbvio tem de ser dito.

Além disso, a linguagem é muito bem utilizada para produzir humor. Até mesmo para ironizar como se controe um paulistano moderno e descolado. Como voce disse, dinheiro, moda, transito, vida do interior, vida da metrópole...

Provavelmente foi o seu humor de escritor entediado e superior ao mundo, típico do spleen e do fin-de-siecle romantico. Não sei bem se é exatamente um parametro.


Seu comentário contém algo da legitima pretensão proustiana tradicional de se fazer crítico sobre coisa alguma, de alguém que "procura o inovador sempre", que nada cria de novo, mas insiste em acredita que o "Novo virá".

Nada de mais.