Eu estava tão longe de minha namorada no dia dos namorados que resolvi mandar umas flores pelo correio e começar um livro que falasse sobre o mundo feminino, saudoso de uma conversa honesta com uma mulher e curioso que sou. Claro, qualquer homem aprende certo ou tarde (como santo Agostinho aprendeu naquela praia) que é mais fácil um menino encher um buraco na areia com toda a água do oceano que compreender-se de fato uma mulher, mas é prazeroso morrer tentando. Esta minha leitura da história bíblica vale uma mirada psicanalista mas é melhor eu deixar isto para quem sabe mais do que eu, achador dos achadores sobre muitos assuntos. Aliás achei este livro na livraria Nobel de Santa Maria, livraria boa afinal de contas, que fica aberta em horários não usuais desta cidade não usual, o que facilita a vida do leitor. Rosa Montero descreve em notas curtas, de dez, quinze páginas cada uma, as vidas de quinze mulheres singulares. As histórias foram publicadas originalmente no El País espanhol em versões menores. Em livro foram publicadas pouco mais de dez anos atrás. As mulheres a cujas histórias somos apresentados são escritoras, livres-pensadoras, artistas, cientistas, místicas, cada uma a seu jeito seminais e definitivas. Sobre algumas eu já conhecia um tanto: Agatha Christie, Simone de Beauvoir, Frida Kahlo, Camille Cluadel, Alma Mahler, George Sand; doutras eu nunca havia ouvido falar: Zenobia Camprubi, Mary Wollstonecraft, Laura Riding, Isabelle Eberhardt, María Lejárraga. Mas eu aprendi algo sobre cada uma delas através das leituras de Rosa Montero. Ela sabe mesmo como narrar uma história e apresenta detalhes que parecem banais mas que ilustram muito a psique das suas retratadas. O livro é bem editado, há várias indicações bibliográficas para aqueles interessados em aprofundar-se na vida de cada uma das mulheres citadas. Nem todas as mulheres retratadas são santinhas corrompidas ou sacaneadas por homens maus, algumas são terríveis, cruéis e obssessivas como poucos seres humanos sabem ser. No final ela cita algo que é particularmente importante acho eu: que a normalidade oficial é algo que não existe Toda vez que somos, homens ou mulheres, tentados (ou mais usualmente, forçados) a nos enquadrar em padrões de comportamento ditos normais, automaticamente somos condenados ao sofrimento e até a destruição, pois não pode existir norma para o cotidiano das vidas concretas das pessoas. Belo livro de dia dos namorados que eu mesmo achei para mim. Recomendo mesmo.
"Histórias de Mulheres", Rosa Montero, tradução de Joana Angélica d'Avila Melo, Agir Editora, 1a. edição (2007) brochura 15.5x23cm, 223 pág. ISBN:978-85-220-0980-0
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