A paixão pelo futebol é algo encarnado em muitos povos. Engana-se quem pense que são os brasileiros, particularmente, quem goste mais deste esporte. Basta acompanhar a literatura esportiva e as transmissões internacionais de qualquer partida para ver que são muitos os demais americanos, do sul e do norte, bem como muitos são os europeus, africanos e asiáticos que acolheram o futebol como seu esporte nacional. Aqui em Santa Maria, gremistas e colorados, torcedores do internacional local e do rio-grandense, para ficar apenas nas possibilidades mais óbvias, não se furtam de demonstrar reiteradamente seu encantamento pelo futebol, seja através das provocações que antecipam os dias em que há partidas, seja nas flautas posteriores aos jogos. Mais afeita às páginas dos jornais diários e das revistas temáticas vez ou outra esta paixão é fixada em livro. É que às vezes um sujeito encontra a motivação ou a voz certa e propõe-se escrever sobre o jogo. Há aqueles que inventam futuros possíveis, querem responder logo no início do ano quem vai ganhar o campeonato mais importante, e eventualmente nos assombram com sua capacidade de premonição. Há outros que retratam tão claramente o mundo presente, as intrigas em voga, os bastidores das transferências de atletas, os planos mirabolantes que se executam, que nos consolamos previamente de nossos aborrecimentos do dia. Por fim há aqueles que optam por recortar algo de seu passado, de suas lembranças, e o presenteiam aos demais. Estes últimos sempre são os mais generosos e também os mais imprescindíveis. Boa parte do amor pelo futebol surge das memórias afetivas mais entranhadas, do encontro de um garoto com a paixão que não era ainda dele, mas sim de seus pais e irmãos mais velhos. Quando alguém conta uma história sobre futebol todos ficam em silêncio, e ouvem, e prestam atenção! Afinal, não foi assim desde o princípio, ouvindo histórias, ao redor de um fogo talvez, que os homens aprenderam os ritos, inventaram mitologias, criaram as sagas e descobriram algo de si nos demais? Haverá algo mais ritualístico, mais mitológico, que gera sagas mais vibrantes e desafiadoras que o mundo do futebol. Bueno. Quem conta algo deste passado aos homens apaixonados pelo futebol dá a eles um grande presente. E é isto que Candido Otto da Luz faz com mais este volume resgatado de seus guardados. Ele começou há quase vinte anos a registrar em livro, em edições bem cuidadas e ricas em material iconográfico, um tanto da história do futebol santa-mariense. Candido faz um trabalho minucioso, detalhista, trilha um caminho que só aqueles realmente apaixonados por seu ofício costumam frequentar. O resultado é ao mesmo tempo um documento e uma porta para este mundo mágico. Neste volume ele rende homenagens a Donga, ou melhor, a Luiz Alberto Salenave, um dos jogadores que mais vezes vestiu a camisa do Internacional de Santa Maria, time do qual foi capitão, temido e respeitado, por muitas vezes. Cumprimentos ao Candido por seu trabalho. O mundo do futebol, dos apreciadores de futebol em Santa Maria deve muito a seu paciente trabalho. Parabéns meu caro. [início 02/04/2011 - fim 02/05/2011]
"O time dos sonhos do Internacional de Santa Maria (parte II: Donga)", Candido Otto da Luz, Santa Maria: editora Manuzio, 1a. edição (2011), brochura 21x29 cm, 61 págs. sem ISBN
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