Há alguma tensão nesse pequeno romance de Marçal Aquino, mas a narrativa não chega a surpreender ou encantar o leitor. "O invasor" nos conta os desdobramentos da decisão, digamos empresarial, de dois sujeitos. Engenheiros de um escritório de relativo sucesso, resolvem eliminar o sócio majoritario deles, um colega dos tempos de escola. Em uma cidade violenta como São Paulo comprar serviços de um matador não parece ser uma coisa difícil, cara ou arriscada. E os tempos não permitem dúvidas morais paralisantes, afinal o que se faz visa apenas maior eficiência nos negócios, maior agilidade, menos burocracia (e, claro, algum dinheiro fácil). Há uns contratos interessantes com os quais esse sócio recusa-se a se envolver. Quem lê jornais com alguma regularidade no Brasil (e não é escravo ideológico de nenhum partido que tenha algum naco de poder) sabe como o processo funciona: um preposto qualquer do governo de plantão oferece uma oportunidade aos amigos, esses rapidamente ganham alguma licitação, executam porcamente o serviço ou a obra. Não demora muito e todos acabam por dividir dinheiro público ganho honestamente. E, se bobear, ainda exploram os dividentos políticos do empreendimento, posando de grandes servidores do povo, quando das festividades da inauguração. Esses são tempos onde ser hipócrita é bem mais do que uma virtude. Mas Marçal Aquino sabe manter o ritmo de sua história e não perde tempo com digressões filosóficas ou sociológicas (e sabe explorar o cinismo do leitor). Após o assassinato estar consumado um dos dois sócios se arrepende. Daí em diante só cabe ao leitor apostar em qual dos dois será mais eficiente nas estratégias de sobrevivência. Quem trairá o outro primeiro? "O invasor" é bem escrito, feito à medida para uma leitura rápida de final de semana, principalmente em um dia vagabundo de sol, mas mesmo com os truques que Marçal Aquino usa no final da história é previsível demais para o meu gosto. Vamos em frente. [início 29/08/2011 - fim 04/09/2011]
"O invasor", Marçal Aquino, São Paulo: editora Companhia das Letras (Má companhia), 1a. edição (2011), brochura 12,5x18 cm, 123 págs. ISBN: 978-85-359-1804-5
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