terça-feira, 26 de agosto de 2014

f

"F" é um romance que se deixa ler sem muitas surpresas. Logo no inicio do texto o leitor fica sabendo que a narradora da historia é uma garota bastante experimentada em atos violentos, que tem histórias mal resolvidas com seu pai (já morto) e sua família, que está um bocado confusa e que foi contratada para matar o cineasta Orson Welles. A prosa correta de Antônio Xerxenesky alcança manter o leitor curioso com o destino da garota, Ana, oferecendo ao leitor informações factuais e invenções plausíveis sobre a vida e a obra de Welles. Não é pouco, mas isso não é suficiente para o leitor se empolgar especialmente. As três partes do livro alternam experiências da garota ainda adolescente, em 1975, no Rio de Janeiro, quando o pai morre e 1985, em Paris e Los Angeles, quando ela se envolve no projeto para matar Orson Welles. Há alguma digressão sobre o impacto da ditadura militar brasileira na geração da protagonista da história (que era jovem demais para se envolver de fato na luta armada ou na resistência ao regime ditatorial) e sobre os desdobramentos e referências, sobretudo culturais, do niilismo inerente desta mesma geração (uma característica não particularmente brasileira de qualquer forma). Uma versão abreviada deste romance seguramente se encaixaria melhor no livro anterior dele, o bom conjunto de contos "A página assombrada por fantasmas". Mas os autores são senhores de suas criações e talvez Xerxenesky tenha preferido exercitar seu estilo numa narrativa longa para descobrir o efeito final que produziria, sabe-se lá, como num aprendizado. O Orson Welles de Xerxenesky em "F" lembra o John Gawsworth de Javier Marías (no "All souls" e no "Negra espalda del tiempo"), um instrumento de aperfeiçoamento do ofício da escrita. Se for mesmo isso vamos a ver o que ele nos oferecerá no futuro.
[início: 31/07/2014 - fim: 01/08/2014]
"F", Antônio Xerxenesky, Rio de Janeiro: editora Rocco, 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 240 págs., ISBN: 978-85-325-2919-0

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