quarta-feira, 22 de abril de 2015

fundação

Com livros de ficção científica a fórmula simples: não importa o quanto é amalucada uma idéia ou proposta desde que a cousa mantenha-se auto-consistente durante o tempo de leitura (isso vale para qualquer dos infinitos gêneros e sub-gêneros fantásticos, mais do que vale para as narrativas realistas). Li a Trilogia da Fundação pela primeira vez no final dos 1970, antes de entrar na universidade, de ser um físico praticante, ver Star Wars no cinema, conhecer as idéias do Campbell, um tanto de mitologia, arte e filosofia, além de ter lido uns 1500 livros mais (entre eles o bom e velho Gibbon de "A história do declínio e queda do Império Romano"). Noutro dia o Marcos Fernandes, amigo paulista, economista dos bons e por vezes um otimista aprendiz de Hari Seldon, falou-me desta nova edição da trilogia e animei-me a voltar a ela. Claro, lê-se "Fundação" com prazer, o ritmo da narrativa é vertiginoso o suficiente para manter o interesse do leitor até o final, mas faltou-me a ingenuidade dos 16, 17 anos para poder apreciar melhor o livro. Aquilo que ele tem de melhor continua lá: enigmas e disputas como num bom romance policial, invenção realmente criativa de possibilidades tecnológicas e uso flexível de conceitos científicos corretos; mas confesso que me aborreci desta vez com as repetições no enredo, o fato de tudo ser demasiadamente explicado e a certeza de que nenhum personagem da história é digno de ser cultuado (a não ser o inefável Seldon, que desaparece fisicamente do livro nas primeiras cinquenta páginas para só aparecer ex machina de tempos em tempos quando é necessário resolver - artificialmente - um problema). A história é mais ou menos conhecida: num futuro absurdamente distante os homo sapiens sapiens vivem num regime imperial que domina toda a galáxia (algo com 25 bilhões de planetas onde vivem um quintilhão de pessoas, ou seja, "dez elevado a décima-oitava potência" pessoas). Hari Seldon é um psico-historiador que prevê a dissolução desse vasto império, um período de trinta mil anos de caos e o estabelecimento de um segundo império. Para evitar os tais trinta mil anos de sofrimento e morte, eis que ele e seus seguidores imaginam um plano que une algo de matemática avançada, métodos estatísticos, alta tecnologia e neurologia aplicada para minimizar o inevitável interregno para apenas mil anos. Esse plano implica no estabelecimento de duas entidades, duas Fundações, em extremos opostos da galáxia. Nesse primeiro volume são descritas as três primeiras ditas "crises do plano" imaginado por Seldon, uma cinquenta anos após seu exílio para a primeira Fundação, a segunda após outros trinta anos e uma terceira após mais setenta anos. Detalhar mais do que isso rouba o quê há de prazeroso no livro. É interessante, curioso, educativo; literatura de entretenimento que eu indicaria sem medo para meus sobrinhos adolescentes (caso eu os tivesse, claro), mas que chegou a aborrecer esse velho senhor e suas cãs. Vamos em frente.
[início: 15/04/2015 - fim: 16/04/2015]
"Fundação", Isaac Asimov, tradução de Fábio Fernandes, São Paulo: editora Aleph, 1a. edição (2009), brochura 16x23 cm., 239 págs., ISBN: 978-85-7657-066-0 [edição original: Foundation (New York: Gnome Press) 1951]

Nenhum comentário: