Do Escobar já li pelo menos dois outros conjuntos de poemas: Curta-Metragem (de 2006) e Pejuçara (de 2009). Recentemente ele lançou esse "Borges vai ao cinema com Maria Kodama", e eu, ai de mim, perdi o dia de lançamento (ou os dias, soube depois), pois estava mascateando meu trabalho por aí. Paciência. Se naqueles dois outros livros o mundo que brota da memória e da arte do poeta é sobretudo o do campo, de uma cidade pequena, de um tempo mais próximo à infância ou da juventude, o que encontramos em "Borges vai ao cinema com Maria Kodama" são resultado do filtro de um homem que viaja, vai a cafés, a museus e teatros, que vê tv (a sofisticada, das performances de arte contemporânea, e a popular, dos jogos de futebol ou tênis), que interage através das novas mídias que vicejam tomando conta das almas, que capta rapidamente os estímulos gerados por aquilo que está a seu redor, que é um flâneur de seu tempo. Ao mesmo tempo não tem medo de olhar para o passado, vocalizar experiências dos pais, da vida colona, dos sonhos de rapaz; nem tampouco falar das influências poéticas, louvar aqueles poetas com quem dialoga. As palavras que Escobar mói ou reinventa são simples, mas poderosas. As imagens que cria são de um cotidiano que nós, talvez por sermos o oposto do que deve ser um verdadeiro vate, somos incapazes de decifrar como ele. Escobar, seguro de si e de suas escolhas, demonstra uma vez mais o quão bom poeta é. Vale.
[início: 01/10/2015 - fim: 09/10/2015]
"Borges vai o cinema com Maria Kodama", Escobar Nogueira, Lisboa/Portugal: Chiado Editora, 1a. edição (2015), brochura 14x21,5 cm., 70 págs., ISBN: 978-989-51-4446-4
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