Neste volume estão reunidos quatro textos de Juan Benet que foram publicados originalmente em jornais, entre 1972 e 1985. Benet foi um escritor espanhol muito respeitado que viveu entre 1927 e 1993. O leitor encontra nas narrativas algo singular, pois as memórias do autor escondem seu protagonismo, seu eu, sua vaidade. Os quatro registros se referem basicamente a experiências que se plasmaram no lustro que vai de 1945 e 1949, quando Benet tinha entre 18 e 23 anos, mas que nortearam suas escolhas, sua carreira, suas ambições. "Barojiana", publicada em 1972, trata das tertúlias que aconteciam na casa de don Pío Baroja, prolífico autor espanhol da primeira metade do século XX. Benet parte da obra de Baroja, da leitura de seus livros e de suas influências, para identificar o encantamento que sua presença provocava nos presentes. Ainda jovem, ele percebe o poder das escolhas literárias de um autor em seu entorno mundano. "Caneja, Juan Manuel" é um curto ensaio sobre um premiado e reconhecido pintor nascido em Palência, autor de impressivas paisagens da meseta castelhana, de influência cubista. Benet fala das vicissitudes pelas quais Caneja passou durante a ditadura franquista, de seu laconismo, e sentido de humor. "El Madrid de Eloy" é um ensaio que enfeixa uma miríade de reflexões sobre a Vila de Madrid, a capital do Estado Español, no início dos anos 1980. Benet fala de autores que parecem capturar algo da magia madritense, de causos, de suas viagens da juventude pela Europa, de personalidades que marcaram a ele e a cidade. "Luis Martín-Santos, um memento", oferece o que o título promete, uma registro de lembranças sobre um inteligentíssimo amigo médico e também poeta, que morreu jovem, num acidente de carro. Nas quatro narrativas Benet alcança ofuscar-se, parecer irrelevante, tornando protagonistas todos os demais, dando relevância às circunstâncias sociais, à política, aos conceitos filosóficos e considerações literárias que brotam exatamente da relação dele com os outros. Há algo de proustiano nas longas descrições, no deslocamento do tempo, no olhar fino sobre o efeito que as estações, o clima e os horários têm sobre as gentes. No último ensaio, sobretudo, afloram descrições maravilhosas da Madrid do pós guerra, nos anos 1940, daquele mundo artificial, que pouco foi afetado materialmente pela guerra, porém que viveria praticamente isolada, política e economicamente, da comunidade internacional, até a morte do ditador Franco, em meados dos anos 1970. Livro muito interessante. Preciso tomar vergonha e ler os romances de Benet que restam abandonados em meus guardados há tantos anos. Vale!
Registro #1541 (perfis e memórias #97) [início: 22/05/2020 - fim: 25/05/2020]
"Otoño en Madrid hacia 1950", Juan Benet, Barcelona: editorial Random House Mondadori (Debolsillo - Contemporánea), 1a. edição (2010), brochura 12,5x19cm., 155 págs., ISBN: 978-84-9908-169-4
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