"A alma perdida" é ao mesmo tempo um curto conto de fadas contemporâneo e também um belo livro de arte, com ilustrações que emulam um mundo de sonhos, de evocações, de sentimentos. As ilustrações são assinadas por uma jovem polonesa, Joanna Concejo. O conto, que tem algo de infantojuvenil, mas só deve ser melhor entendido por aqueles que já passaram pelos primeiros aborrecimentos de verdade nesta vida, é assinado pela também polonesa Olga Tokarczuk, premiada com o Nobel de literatura em 2018. A história é realmente curta e talvez não merecesse ser conspurcada pelas ásperas palavras de um resenhador rabugento como eu, que não deposita muita fé na humanidade, nem tampouco acredita na propalada capacidade de amar das pessoas. Trata-se da descrição lírica do descompasso entre um sujeito e sua alma, de um registro sobre a velocidade do tempo, dos efeitos - nos homo sapiens - das muitas confusões de nossos dias. É um livro onde as cores são pálidas, a paleta carregada de cinzas e verdes, ocres e azuis sem viço. O texto é sereno, objetivo e, de alguma forma, nele a esperança vence a melancolia (nas ilustrações também parece acontecer). Bom. Mas é hora de seguir em frente, continuar no baile sempre macabro deste ano bizarro, onde todas as formas de estupidez e gloriosa vocação para a inutilidade dos homo sapiens tornaram-se especialmente visíveis. Vale!
Registro #1593 (livro de arte #39)
[início - fim: 26/11/2020]
"A alma perdida", Olga Tokarczuk,
tradução de Gabriel Borowski, ilustrações de Joanna Concejo, São Paulo: Editora Todavia, 1a.
edição (2020), brochura 19,5x26,5 cm, 48 págs. ISBN: 978-65-5692-065-1 [Edição original: Zgubiona dusza (Wrocław: Wydawnictwo Format) 2017]
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