segunda-feira, 28 de maio de 2007

montalbán

Este vai ser um ano não muito difícil de definir literariamente, pois os livros do Montalbán vão se acumulando nas minhas leituras e minha admiração por ele só aumenta. Assim quando quiser lembrar de 2007 sempre poderei dizer que foi o ano da viagem à Barcelona e a descoberta de Montalbán (ao menos a primeira metade do ano que estamos quase a começar será definida assim). "Os mares do sul" ganhou vários prémios europeus logo após seu lançamento em 1986. A ossatura do livro é a típica dos romances policiais: um detetive sem ambigüidade moral e maniático têm um crime invulgar para investigar e ao longo do livro descreve as paixões humanas de seu tempo com muita argúcia e precisão (desnecessário dizer que no final ele descobre os detalhes escondidos de toda a trama e sai com seu polpudo cheque de pagamento pronto para ser descontado). Mas, como li de um outro resenhador recentemente, é mesmo difícil não se entusiasmar com a riqueza das descrições que Montalbán faz dos costumes e tradições, da política e da gastronomia catalãs, e a sutil crítica da sociedade onde viveu, demonstrando um conhecimento profundo dos homens de seu tempo. Nem todo catalão deveria gostar da rudeza de seus comentários pouco auto-indulgentes com "la vieja catalunya": tubarões em um mar de sardinhas!. O procedimento de queima de livros, hábito do personagem principal do livro, é algo que me exaspera menos sabendo-o ficcional. A forma como ele se faz entender com tiradas rápidas e irônicas quase transforma-o em um onisciente super-homem. As receitas espalhadas pelo livro são um convite a retomarmos a cozinha e abrirmos as janelas da imaginação. Como é curioso o acaso de meu encontro com este livro. Assim como no caso do Durrell, outro parceiro da memória literária desta primeira parte deste ano, não parece que são os livros que vêm e escolhem seus leitores? Em uma biblioteca então teríamos uma constante competição entre eles pela nossa atenção, dispersivos que somos. Esta é uma idéia para se pensar. Bom. Apesr de recomendar o livro sem reservas já gastei adjetivos demais com este sujeito. Tenho mais três livros dele para enfrentar, mas antes há outros três pelo menos: um livrinho de ensaios da Virginia Woolf que começei, um Enrique Vila-Matas recomendado pelo Luiz-Olyntho e um ensaio científico sobre a idade média que está lá pelo meio, mas já merecedor de uma resenha. Vamos a ver quem me escolhe primeiro desta vez. "Os Mares do Sul", Manuel Vázquez Montalbán, tradução de Cid Knipel Moreira, editora Companhia das Letras, 1a. reimpressão (2001) ISBN: 85-7164-750-X

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