Ler Alberto Manguel sempre é uma aventura pelo mundo dos livros, das bibliotecas, das obsessões literárias. Não é diferente neste "O leitor como metáfora". Somos apresentados a reflexões que remetem a ideia da leitura, ao contrato afetivo que se estabelece entre leitores e livros, ao vocabulário que lentamente se criou para identificar essa atividade, esse ofício, essa deliciosa sina. É um livro compacto, lê-se com folga em um bom final de semana. O volume é fartamente ilustrado, como para dar também uma ideia visual ao leitor da fortuna iconográfica, distinta daquela outra, original, que é a fortuna crítica dos investigadores dos hábitos de leitura dos homens. Manguel se concentra em três das muitas metáforas que podem ser associadas aos homens que leem: a do viajante, aquele que descobre o mundo mesmo estando a sós com as letras de um livro; a da torre, o claustro daqueles que preferem a solidão compartilhada com os livros que as viagens; a da traça, a dos ratos de biblioteca, daqueles que não se importam mais que exista um mundo e outras vidas acontecendo fora dos livros. A linguagem de Manguel não é empolada, artificial, entretanto o livro é formatado como num texto acadêmico, povoado por citações muito precisas, especialmente das ilustrações, epígrafes e referências. Quando lemos livros assim somos transportados à infância, aos tempos dos primeiros encantamentos com os livros, as primeiras descobertas, àquela sensação de cumplicidade, entre autor e leitor, que parecia brotar dos livros, e que parece continuar brotando, por sorte nossa. Belo livro. Vale!
Registro #1319 (crônicas e ensaios #231) [início 24/08/2018 - fim: 26/08/2018]
"O leitor como metáfora: o viajante, a torre e a traça", Alberto Manguel, tradução de José Geraldo Couto, São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 1a. edição (2017), brochura 16,5x23 cm., 148 págs., ISBN:
978-85-9493-056-9 [edição original: The Traveler, the Tower and the Worm: The Reader as Metaphor (Philadelphia/USA: University of Pennsylvania Press) 2013]
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