Ler as histórias de Alfonso Zapico sempre implica em um envolvimento emocional, como se ele apostasse em uma ligação afetiva para comunicar ideias e reflexões sobre assuntos nem sempre fáceis. Percebe-se isso em "Café Budapest", no qual ele trata do conflito árabe-israelense; em "El otro mar", em que fala da conquista espanhola das Américas; em "Cuadernos d'Itaca", que discute a experiência do quase exílio, de um estrangeiro como ele vivendo entre franceses e viajando pelo mundo, saudoso de sua Espanha e de seu asturiano fundamental. Nos seus volumes dedicados a obra de James Joyce ("Dublinés" e "La ruta Joyce"), esse mesmo registro afetivo é utilizado para descrever como ele se envolveu um um tema complexo, difícil de classificar e reduzir-se à forma de Graphic Novel. Enfim, em suas próprias palavras ele se considera "um dibujante de conflictos". "Los puentes de Moscú" é seu livro mais recente. Não se trata das pontes da Moscou russa, mas sim das pontes metafóricas de uma praça em Irún, Guipúzcoa, no país basco espanhol, conhecida como praça vermelha. Zapico desenha e adapta para o formato de história gráfica um encontro que teve em Guipúzcoa com dois amigos, Eduardo Madina e Fermin Muguruza. Madina é um político espanhol de origem basca, foi secretário geral do partido socialista, sofreu um atentado do grupo terrorista e independentista ETA e atualmente é professor universitário. Muguruza é cantor, instrumentista e produtor musical basco, muito respeitado em sua região e que mantém colaboração com músicos de todo o mundo. É também um sujeito comprometido (a seu modo) com o projeto independentista do País Vasco. Zapico e Madina são quase da mesma idade (quase quarenta ou quarenta e poucos, respectivamente), Muguruza um pouco mais velho (tem cinquenta e cinco anos). Zapico registra os vários encontros entre eles, conta suas biografias, os feitos mais decisivos de cada um, as controvérsias e polêmicas nas quais se envolveram, momentos tristes e também alegres de suas vidas. Das conversas, sempre ao redor de mesas de bar, de café, vinho ou pratos típicos bascos, brotam reflexões sobre um conflito que é difícil de compreender e mais difícil ainda de explicar. Não há conclusão possível. O que Zapico propõe é estabelecer pontes entre os indivíduos, discutir como cada um pode contribuir para esse complexo debate. Afinal, o tempo continua fluindo, como as águas dos rios que seguem para o mar próximo a Irún, as vidas seguem sendo vividas, e algum convívio pacífico entre membros de cada grupo (os nacionalistas e os idependentistas) possível. Vale!
Registro #1303 (graphic novel #70) [início: 21/05/2018 - fim: 23/05/2018]
"Los pontes de Moscú", Alfonso Zapico, Bilbao: Astiberri Ediciones, 1a. edição (2018), brochura 17x24 cm., 200 págs., ISBN: 978-84-96815-51-5
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