Este livro de Manuel Vázquez Montalbán foi publicado aproximadamente um ano depois dos jogos olímpicos de Barcelona. É uma ode crítica a toda organização dos jogos e do conceito mesmo de competição esportiva onde os interesses políticos e econômicos são os únicos que de fato estão em jogo. O livro é uma alegora livre sobre os vários personagens envolvidos nos jogos: o fanquista de primeira hora e presidente eterno do comitê olímpico internacional, Juan Samaranch; Ben Jonson, o recordista dopado do cem metros rasos; o rei Juan Carlos e seu manual do bom reinado debaixo do braço; Felipe González e os muitos políticos madrileños e catalães envolvidos nos jogos (como pano de fundo eleitoral no horizonte); os ricos empreendedores catalães como sempre contando o rico dinheirinho ganho com os projetos imobiliários; os arquitetos e arautos da modernidade que olham para suas obras como a rainha má de Branca de Neve olhava para seu espelho falante; os idealizadores do projeto que mitificaram a própria idéia do que uma Catalunya poderia ter sido ou ainda ser; Bush pai e sua guerra do golfo, sem saber se bombardeia e invade Bagdah ou Barcelona, afinal é tudo a mesma coisa para um caubói; o papa João Paulo II e suas amigas polonesas arremessadoras de dardo, prontas para fecundar todos os católicos deste mundo e aumentar a prole de fiéis. Para nós brasileiros que estamos as voltas com um bando de aventureiros espertalhões que vão organizar a copa do mundo de futebol em 2010 e ainda pretendem de lambuja ganhar a organização dos jogos olímpicos de 2016 é mesmo um livro curioso de se ler. Onde há uma cortina de fumaça adequada, seja ela religiosa, esportiva, afetiva, emocional, festiva, sempre vai existir um canalha de plantão pronto para roubar uns dinheiros, não importa quanto explícito o roubo possa ser executado no final. Talvez aqueles jogos teriam sido uma miragem, inventada para iludir a população mundial de suas mazelas. Talvez tenha sido sempre assim desde aqueles dias ensolarados na grécia, onde um punhado de rapazes nus, lambuzados de azeite de oliva, corriam, pulavam e lançavam para apenas ganhar ramos verdes entrelaçados como prêmio.
Sabotaje Olímpico, Manuel Vázquez Montalbán, editorial Planeta, 1a. edição (2005) brochura 15,5x23,5cm, 173 pág., ISBN: 978-84-08-05895-3
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