Neste volume estão reunidas 96 crônicas de Javier Marías que foram publicadas originalmente nos domingos entre 05/02/2017 e 27/01/2019, no suplemento El País Semanal. Quarenta e quatro são de 2017, quarenta e oito de 2018 e quatro já deste terrível 2019. Todas estas crônicas podem ser lidas também em seu blog: javiermariasblog. As crônicas não são monotemáticas, em geral ele enfeixa vários assuntos e propõe uma síntese, um ponto de vista original e sempre rico. De qualquer forma tentei organizá-las nos temas mais dominantes e as reduzi a quatro conjuntos: vinte e sete são basicamente sobre questões políticas (seja da madrilenha, catalã - viveu-se a tentativa de independência da catalunya nestes dias, espanhola ou europeia, mas também tratam de intolerância, terrorismo, o debate entre esquerda e direita no mundo); quarenta e três gravitam a sociologia (a vida em sociedade, comportamento, questões de gênero, o mundanismo, percepção da realidade, a boa educação); nove correspondem a registros ou fragmentos da memória (da família, dos amigos, do futebol, de experiências pessoais) e dezessete de questões culturais (do ofício da literatura, do cinema, das artes plásticas, da música, de questões linguísticas ecoadas na RAE, da estética, de ideias e ideais). Marías é um sujeito que percebe tendências, não se deixa enganar pelas aparências, pelo convencional. Ali de seu apartamento na Madrid de los Austrias, aquela região mítica do centro-oeste de Madrid, ele acompanha os sucessos do mundo e reflete, digita em sua vetusta Olympia Carre de Luxe suas seminais crônicas. Cada uma delas é um pequeno bálsamo semanal, um lenitivo aos aborrecimentos e surpresas da vida. Pouco importa se sua matéria prima cultural seja a Espanha, já que suas digressões falam do mundo contemporâneo, dos homo sapiens de hoje, daquilo que repercute em todo o globo. Ele não se furta de provocar tribos organizadas, de denunciar a estupidez daqueles que defendem temas ditos politicamente corretos, de lamentar o vitimismo e a absoluta falta de educação que grassa nestes dias. Ele aceita as limitações humanas, entende sua complexidade, acompanha as metamorfoses e o ritmo deste tempo. Lamentavelmente não há no Brasil nenhum articulista que emule uma fração de sua honestidade intelectual e argumentação clara. Nenhum registro substitui o genuíno prazer de ler sua prosa. Recomendo sempre a leitura de qualquer um de seus conjuntos de crônicas: Mano de sombra, Seré amado cuando falte, A veces un caballero, Harán de mí un criminal, El oficio de oír llover, Demasiada nieve alrededor, Lo que no vengo a decir, Ni se les ocurra disparar, Tiempos ridículos, Cuando los tontos mandan e Juro no decir nunca la verdad. A bem da verdade recomendo sempre a leitura de qualquer um de seus livros, há 50 registros deles aqui no Livros que eu li. Vale!
Registro #1408 (crônicas e ensaios #257)[início: 22/05/2019 - fim: 25/05/2019]
"Cuando la sociedad es el tirano", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2019), brochura 15x24 cm, 304 págs. ISBN: 978-84-204-3781-1
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